Por Steve Scherer e Massimiliano Di Giorgio
ROMA (Reuters) - A Itália anunciou nesta sexta-feira que irá encerrar uma missão marítima de resgate que salvou as vidas de mais de 100 mil imigrantes da África e do Oriente Médio, gesto que um grupo de direitos humanos alertou poder levar a um "surto de mortes" no Mar Mediterrâneo.
O ministro do Interior, Angelino Alfano, disse que a missão Mare Nostrum, ou "Nosso Mar", será finalizada para dar lugar a uma operação menor da União Europeia e ajudar a aliviar o fardo imposto às finanças públicas italianas em meio a uma recessão que já dura três anos.
"A Mare Nostrum está terminando porque era uma operação de emergência", afirmou Alfano em uma entrevista coletiva.
A Marinha da Itália iniciou a Mare Nostrum pouco mais de um ano atrás, quando 360 homens, mulheres e crianças, a maioria da Eritreia, afogaram-se no naufrágio de seu barco superlotado a aproximadamente 1,6 quilômetro da ilha de Lampedusa, na Sicília, território italiano.
Mesmo com cinco navios de guerra em patrulha permanente entre as águas da Sicília e o norte da África, apoiados por vigilância com helicóptero, avião e aeronave não-tripulada, cerca de 3.300 imigrantes morreram tentando fazer a travessia neste ano, estimou o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).
Alfano disse que a Itália gastou 114 milhões de euros para operar a missão ao longo do último ano e que seu encerramento irá reduzir os custos "para zero".
A Itália continuará respeitando as leis marítimas e respondendo a pedidos de socorro, declarou ele, acrescentando que o corte de gastos não necessariamente causará mais tragédias.
"O número de pessoas que morrem não é proporcional ao número de euros gastos", afirmou.
Ativistas de direitos humanos advertiram que o fim da missão provavelmente levará a mais afogamentos.
"Não há rotas alternativas para se chegar à Europa, e os conflitos estão aumentando não só na Síria, mas também no Iraque e em outros lugares. Por isso, haverá um risco maior de tragédias no mar sem a Mare Nostrum", afirmou o chefe operacional do grupo Médicos Sem Fronteiras na Itália, Stefano Di Carlo, à Reuters.