Por Chine Labbé
PARIS (Reuters) - O mais alto magistrado da França adotou uma atitude incomum de repreender publicamente o presidente do país nesta quinta-feira, depois que vieram à tona comentários depreciativos sobre o Judiciário que teriam sido feitos pelo presidente francês, François Hollande, a jornalistas e relatados em um livro publicado nesta semana.
A rusga com o Judiciário é só um dos constrangimentos que o livro, "Um Presidente Não Deveria Dizer Isso", escrito por dois jornalistas do diário Le Monde, causou.
Falando da grande câmara dourada da várias vezes centenária corte de Justiça do centro de Paris, o magistrado Bertrand Louvel disse a juízes recém-indicados que os comentários atribuídos a Hollande são degradantes e perigosos para a instituição.
"O presidente da República permitiu que comentários fossem publicados, sem negá-los, nos quais chama o Judiciário de 'instituição covarde' onde alguns 'se escondem', 'se fazem de virtuosos' e 'desgostam de política'", disse Louvel, vestindo os tradicionais trajes vermelhos forrados de pele.
"Anteriormente seu antecessor comparou magistrados a 'ervilhinhas insípidas'", disse o juiz, referindo-se a comentários feitos pelo ex-mandatário Nicolas Sarkozy.
"Este ultraje renovado contra o Judiciário, em um momento no qual todas as autoridades deveriam mostrar coerência, representa um problema institucional", afirmou Louvel.
Segundo relatos, Hollande também disse aos jornalistas em dezembro de 2015, um mês depois de atiradores islâmicos matarem 130 pessoas em Paris, que a França tem "um problema com o islã", colocações que ameaçam prejudicar a base de seu partido de esquerda seis meses antes de uma eleição presidencial.
Na quarta-feira, Hollande convidou os dois juízes mais graduados do país a encontrá-lo na tentativa de restaurar as relações. Nesta quinta-feira, eles disseram que a reunião de 20 minutos não serviu para apaziguar sua aflição.
"O encontro de ontem com o presidente não suavizou o sentimento de humilhação que os magistrados voltaram a sentir", disse o principal procurador francês, Jean-Claude Marin.
O ministro da Justiça francês, Jean-Jacques Urvoas, disse: "Deem-me uma palavra, uma palavra pública que o presidente tenha dito desde 2012 na qual comentou uma decisão judicial? Nem uma palavra, muito menos um insulto, um ato ou uma intervenção em uma decisão judicial."