RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Brasil tem de aproveitar a crise na cúpula da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para "passar a limpo" o futebol nacional e entrar numa nova fase de melhor gestão esportiva, disse nesta quarta-feira o ministro do Esporte, George Hilton.
Na semana passada, Marco Polo Del Nero se licenciou da presidência da entidade depois de ser indiciado pela Justiça dos Estados Unidos sob acusação de participar de um esquema global de corrupção no futebol que teria movimentado milhões de dólares.
"Acho que é um grande momento da gente passar a limpo o futebol brasileiro… a gente espera que seja uma oportunidade para um novo momento, um novo olhar para tratar o futebol com gestão com responsabilidade", afirmou Hilton a jornalistas no Rio de Janeiro.
Del Nero sucedeu o ex-presidente José Maria Marin, que foi preso em maio por suposto envolvimento no esquema de corrupção. Ele ficou preso por meses na Suíça, onde a operação foi deflagrada, e agora cumpre prisão domiciliar nos EUA.
Outro ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, também foi indiciado pela Justiça norte-americana e é mais um suspeito de integrar o esquema ligado a suborno envolvendo direitos de transmissão e venda de competições em vários países.
Por ser uma entidade privada, a CBF não pode sofrer uma intervenção, mas o ministro afirmou que governo apoia investigações contra os supostos envolvidos no esquema.
"Nós apoiamos que sejam feitas as investigações e que os eventuais culpados sejam punidos dentro do rigor e daquilo que é previsto na lei", disse o ministro em evento da Fundação Getulio Vargas.
Del Nero se licenciou para se defender das acusações e, segundo fontes na CBF, dificilmente terá força para voltar ao comando do futebol brasileiro. Ele apontou como seu substituto interinamente o vice-presidente Marcus Antônio Vicente.
Nos bastidores, está sendo articulado um plano para a sucessão de Del Nero. Pelo estatuto da CBF, o vice-presidente mais velho da entidade tem o direito de assumir a presidência em caso de renúncia ou vacância do presidente. Atualmente, o vice mais velho é o presidente da Federação de Santa Catarina, Delfim Peixoto, que faz oposição a Del Nero.
No entanto, Del Nero estaria trabalhando para que o presidente da Federação do Pará, coronel Nunes, seja escolhido para a vice-presidência que era ocupada por Marin. Nunes é mais velho que Peixoto e, se escolhido vice-presidente, estaria apto a ser o primeiro na linha sucessória da CBF.
Federações da região Nordeste defendem um adiamento da Assembleia Geral da CBF para a escolha do novo vice-presidente, marcada para o próximo dia 16.
O ministro do Esporte defendeu uma limitação dos mandatos de dirigentes esportivos. "Tentamos...limitar mandatos e espero que na continuidade que teremos sobre isso no Congresso a gente consiga ter uma legislação mais dura e exigente para que tenhamos uma gestão mais eficaz", finalizou ele.
(Reportagem de Rodrigo Viga Gaier)