Por Nelson Acosta e Ana Isabel Martinez
HAVANA (Reuters) - As Damas de Branco, grupo dissidente mais proeminente de Cuba, cancelou neste domingo pela primeira vez em 13 anos sua marcha semanal de protesto, após a morte de seu inimigo Fidel Castro, líder revolucionário cuja morte gerou um mal-estar generalizado na ilha.
Fidel Castro, uma figura mundial que construiu um Estado comunista à porta dos Estados Unidos e por meio século desafiou os esforços dos EUA para derrubá-lo, morreu na sexta-feira, aos 90 anos.
O governo cubano declarou um luto de nove dias e suspendeu a venda de álcool e até mesmo os jogos de beisebol.
O grupo dissidente Damas de Branco decidiu evitar tensões nesta semana.
"Não marcharemos hoje para que o governo não tome isso como uma provocação e para que eles possam fazer suas homenagens", disse neste domingo a líder do grupo, Berta Soler. "Nós respeitamos o luto dos outros e não vamos celebrar a morte de qualquer ser humano."
O grupo, originalmente formado em apoio aos maridos presos por fazem oposição política, realiza marchas de protesto em Havana após a missa em uma Igreja Católica a cada domingo nos últimos 13 anos.
Essa é uma expressão rara da dissidência tolerada pelo governo comunista, apesar de, nos últimos meses, a polícia ter suprimido os manifestantes em suas casas, impedindo que as manifestações ocorressem.
A diferença desta semana é que os próprios dissidentes optaram por não tentar, disseram três líderes da oposição.
As ruas de Havana ficaram calmas desde a morte de Fidel Castro, com pessoas expressando o orgulho nacional pendurando mais bandeiras cubanas do que o normal.
Lysset Perez, uma vendedora de amendoim de 44 anos, se vestiu neste domingo com as cores nacionais e amarrou uma bandeira com uma estrela e as cores azul, vermelha e branca na cabeça.
"É calmo, mas um pouco sombrio, pois Cuba é música e, por nove dias de luto, não haverá música", disse Perez. "Há calma e tristeza, se não fosse Fidel e a revolução, o povo não seria como é: educado e culto".