Por Sérgio Spagnuolo
CURITIBA (Reuters) - Com distribuição de adesivos com a inscrição "#CorrupçãoNão" a jornalistas, o Ministério Público Federal e investigadores da operação Lava Jato deram seu recado nesta sexta-feira contra a impunidade no país, vendo nas investigações uma mudança de paradigma nessa área e pedindo mudanças na cultura da sociedade em relação à tolerância com a corrupção.
Frases como "o Brasil não vai compactuar com a prática de crimes por mais poderosos", do procurador federal Deltan Dallagnol, deram boa parte do tom da coletiva de imprensa realizada em Curitiba para anunciar as novas denúncias da 14a fase da Lava Jato, que incluíram os presidentes da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, e da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo.
"Esperamos que a operação não seja mais uma operação em que pessoas são presas, condenadas, o dinheiro, recuperado, e não haja uma mudança de mentalidade", disse o delegado da Polícia Federal Eduardo Mauat da Silva. "Uma mudança de mentalidade em que a sociedade vai parar e não vai mais aceitar isso."
Para isso, o MPF divulgou uma cartilha com "10 medidas contra a corrupção", resumindo 20 anteprojetos de lei que foram encaminhados para apreciação do Congresso Nacional.
Entre as medidas, estão o aumento das penas e crime hediondo para corrupção de altos valores; celeridade nas ações de improbidade administrativa; reforma no sistema de prescrição penal; responsabilização dos partidos políticos e criminalização do "Caixa 2" e recuperação do lucro derivado do crime.
Citando dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o MPF estima que sejam desviados no Brasil cerca de 200 bilhões de reais opor ano.
"Vivemos um momento de cifras históricas", disse Dallagnol durante uma apresentação. "Por um lado essa cifras são uma tragédia, porque representam um desvio dos cofres públicos jamais visto da história."
"Por outro lado, essas cifras históricas nos trazem uma esperança, porque jamais houve uma recuperação de valores tão grande na história do Brasil", acrescentou.
Segundo o MPF, já foram restituídos aos cofres públicos mais de 870 milhões de reais por meios de acordos de colaboração firmados com investigados da Lava Jato.