Por Jeferson Ribeiro
BRASÍLIA (Reuters) - O foco da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) nessa reta final será a disputa direta com a candidata do PSB, Marina Silva, mas a intensidade e o conteúdo das críticas à adversária estão sendo calibrados para evitar que ela se vitimize com os ataques e amplie a vantagem numa disputa de segundo turno.
O trabalho de "desconstrução" de Marina, no entanto, não será suficiente para garantir a vitória no final de outubro, na avaliação de membros da campanha petista. Por isso, Dilma passou a adotar nos últimos dias um tom mais autocrítico em relação a sua gestão e, na quarta-feira, disse que um novo governo significa "atualização de políticas e das equipes".
O alcance desse mea-culpa, entretanto, ainda é incerto, já que a postura foi assumida depois de muita resistência de Dilma.
Há semanas, segundo uma fonte do comitê de campanha ouvida pela Reuters, vários aliados, ministros do governo e até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, defendiam que a presidente reconhecesse que sua gestão não tinha apenas acertos e que seriam feitos ajustes após a reeleição.
Esse "tom mais humilde", explicou a fonte, poderia ajudar a conquistar eleitores que estão descontentes com algumas ações do governo, mas dariam uma nova chance a Dilma se percebessem a disposição para mudanças.
"O governo... tem muita coisa para mostrar, mas há dificuldades na economia, que precisam ser reconhecidas e que a presidente tem condições de apontar soluções", afirmou a fonte, lembrando que os apelos dos aliados para esse novo tom sempre recaem sobre o desempenho aquém do esperado na economia.
Já a estratégia de ataques a Marina está um pouco mais clara.
Um ministro disse à Reuters, sob condição de anonimato, que o roteiro de críticas passa pela inconsistência das propostas do programa de governo da adversária, pela postura "liberalizante" de propor a autonomia legal do Banco Central e um papel menor dos bancos públicos na economia, além de ataques à proposta de reforma política que, na avaliação dos petistas, não contempla o fortalecimento dos partidos.
"A estratégia não é uma coisa estática, é uma coisa que se acumula ao longo dos dias, em que se vai testando algumas coisas e agregando outras", disse o ministro.
"O argumento central é que há uma escolha entre um projeto de 12 anos com um conjunto de realizações e com propostas para mais quatro anos", disse. "E algo que não tem referência, histórico e com uma candidata que teve muitos conflitos (ao longo de sua trajetória)", comparou.
O PT também deve continuar com os questionamentos sobre a capacidade de Marina de manter a governabilidade e construir acordos, caso seja eleita, mas há dúvidas sobre o forma de apresentar essa crítica.
A propaganda de TV apresentada esta semana comparando Marina aos ex-presidentes Fernando Collor de Mello e Jânio Quadros, que não concluíram seus mandatos e representavam o "partido do eu sozinho", causa divergência entre os aliados.
Há quem argumente que esse tipo de ataque pode se voltar contra a própria presidente. Mas há outros que viram na propaganda um embate puro de política que ajuda o eleitor a se definir pela proposta de reeleição de Dilma.
Para se contrapor a Marina, a petista também deve divulgar nessa reta final um programa de governo mais detalhado.
Inicialmente, as propostas para um segundo mandato seriam apresentadas apenas na propaganda de TV, mas prevaleceu a ideia de divulgar um documento, que deve ser finalizado até domingo, com propostas. Marina apresentou o programa na semana passada.
Um dos estrategistas da campanha avalia que haverá dois meses de segundo turno entre Dilma e Marina e que o debate de propostas dará vantagem à petista pelas realizações do governo.
Esse diagnóstico é compartilhado pela fonte do comitê ouvida pela Reuters, que vê nesse cenário esse primeiro mês do super segundo turno como mais decisivo para as pretensões da petista, já que as pesquisas recentes mostram Dilma atrás de Marina num segundo turno. Ibope e Datafolha apontam uma vantagem de sete pontos percentuais para a candidata do PSB.
"A pesquisa é ruim para nós (no 2º turno), não dá para ver só um mar de rosas. Mas ainda temos 30 dias pela frente (até o primeiro turno)", afirmou o ministro.
SEM SANGUE NOS OLHOS
Vencer a eleição contra Marina seria uma tarefa mais fácil para Dilma se ao longo do governo ela não tivesse cortado tantos canais de diálogo, na avaliação de integrantes da campanha.
Não são poucos os relatos de empresários e políticos que tentaram construir pontes com Dilma e o governo desde 2011 e que não foram atendidos, nem mesmo quando tinham interesses complementares aos da presidente.
Esse ambiente distante criado por Dilma torna a mobilização da militância ou de setores econômicos mais difícil nesse momento.
Também não há entre os petistas de escalões inferiores do governo o tal "sangue nos olhos" para defender o projeto de Dilma.
Um exemplo disso ocorreu na semana passada, quando o comitê de Dilma fez uma reunião com o segundo escalão do governo para pedir que os secretários fizessem campanha nos finais de semana para a reeleição e alguns argumentaram que a gestão da petista tinha sido muito centralizadora e vários não demonstraram animação para se empenhar em atos de campanha na reta final.
(Reportagem adicional de Anthony Boadle)