Por Matt Spetalnick e Frank Jack Daniel
HAVANA (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pressionou para que Cuba melhore o seu retrospecto em direitos humanos e polemizou com o presidente Raúl Castro, durante a sua histórica visita à ilha de regime comunista nesta segunda-feira, enquanto Raúl respondeu criticando os “dois pesos e duas medidas” dos EUA.
Direitos humanos permanecem um obstáculo para o fortalecimento dos laços com Cuba, apesar da reaproximação feita pelos dois líderes em dezembro de 2014, disse Obama, acrescentando que um “florescimento pleno” da relação só poderia acontecer quando houver avanços sobre o tema.
"Na ausência disso, eu acho que isso vai continuar a ser um irritante muito forte”, declarou Obama numa entrevista conjunta, em certos momentos tensa, à imprensa, que foi transmitida ao vivo pela TV estatal de Cuba. Raúl pareceu em certas horas desconfortável e mostrou sinais de irritação, uma vez que ele, de forma rara, aceitou responder a perguntas de jornalistas.
Obama, o primeiro presidente norte-americano em exercício a visitar Cuba em quase 90 anos, está sob pressão de críticos nos EUA para forçar o governo de Raúl Castro a permitir a diferença política e a abrir ainda mais a economia de estilo soviético. Alguns que se opunham à visita afirmam que ele já cedeu demais para melhorar as relações, com muito pouco vindo em troca de Cuba.
Na entrevista desta segunda-feira, que se seguiu a uma reunião entre os dois líderes, Raúl respondeu de forma incisiva à pressão sobre o seu retrospecto em direitos, dizendo que a posição dos EUA refletia um uso de dois pesos e duas medidas, já que o país também violava os direitos humanos.
O presidente cubano disse que nenhum país cumpre todos os acordos internacionais em direitos, e que Cuba era forte em muitas áreas, como saúde, educação e igualdade de gênero.
"Vamos trabalhar para que todos respeitem todos os direitos humanos”, afirmou ele. O governo cubano critica frequentemente os EUA em temas como racismo, violência e a prisão que os norte-americanos mantêm na base naval de Guantánamo em Cuba.
Perguntado por um jornalista sobre a detenção de dissidentes políticos, Raúl pediu para ver uma lista desses presos, sugerindo que Cuba não prendia ninguém.
"Que prisioneiros políticos? Me dê um nome, ou nomes. Então, quando essa reunião terminar eles podem me dar uma lista com os presos. E, se houver esses prisioneiros políticos, eles estarão livres antes do anoitecer”, disse, encarando o jornalista.
Ele ofereceu a receita cubana para relações melhores, dizendo que os dois países poderiam ter laços muito melhores se os EUA levantarem o embargo comercial de 53 anos sobre a ilha e devolverem a base de Guantánamo à Cuba.
Por décadas, a viagem de Obama teria sido impensável. Ela se tornou possível depois que negociações secretas resultaram em 2014 num acordo para normalizar as relações entre os dois adversários da antiga Guerra Fria.
A Casa Branca pressionou por uma entrevista conjunta à imprensa de Obama e Raúl Castro por algum tempo, em linha com a prática norte-americana em outras viagens internacionais, mas o governo cubano resistia. Nesta segunda-feira, não estava claro se os dois líderes iriam responder a perguntas até eles aparecerem diante dos jornalistas.
Quando o período de perguntas se iniciou, a facilidade de Obama com o formato contrastou com o desconforto de Raúl. A tensão pôde ser sentida no ambiente, uma vez que o presidente cubano não quis chamar vários jornalistas cubanos que queriam se aproveitar da chance rara de lhe questionar.
Obama afirmou que o líder cubano havia somente concordado em responder a uma pergunta, mas ele com bom humor o incentivou a aceitar uma segunda. Raúl Castro pareceu relutante ao aceitar.
(Reportagem adicional de Jeff Mason, Daniel Trotta e Frank Jack Daniel)
((Tradução Redação São Paulo, 5511 56447765)) REUTERS TR