Por David Lawder e Andrea Shalal
MARRAKECH, MARROCOS (Reuters) -Os países do Fundo Monetário Internacional não conseguiram chegar a acordo neste sábado sobre um plano apoiado pelos EUA para aumentar o volume de recursos do FMI sem dar mais espaço na instituição à China e outros grandes mercados emergentes, incluindo o Brasil, mas prometeram um “aumento significativo” do dinheiro para empréstimos até o final do ano.
Em uma coletiva de imprensa após uma reunião do Comitê Financeiro e Monetário Internacional do FMI (IFMC), a diretora Nadia Calvino que o aumento prometido nos fundos das cotas da instituição garantirá "um FMI com recursos adequados que possa garantir a estabilidade financeira", mas recusou-se a descrever os termos do entendimento.
Calvino, que é ministra da Economia da Espanha, disse que o IFMC não conseguiu chegar a um consenso sobre um comunicado conjunto em meio a divergências sobre a linguagem usada no tratamento de conflitos, apesar de muitos países membros condenarem a invasão da Ucrânia pela Rússia e o assassinato de civis em Israel e Gaza.
Um funcionário de um país do G7 com conhecimento direto das negociações disse que não havia consenso sobre o aumento da cota nem clareza sobre se o prazo para acertar a questão até o final do ano seria muito apertado. O FMI havia definido que concluiria a sua mais recente revisão de cotas até 15 de dezembro.
O plano do Tesouro dos EUA para que os países contribuam com novos valores de cotas proporcionalmente às suas atuais participações, inalteradas desde 2010, ganhou o apoio dos países do G7, da Índia e de vários outros mercados emergentes.
Mas a China continuou a resistir. O governador do Banco Popular da China, Pan Gongsheng, disse em comunicado ao IMFC que a China deseja tanto um aumento de cota quanto um realinhamento de ações "para refletir o peso relativo dos membros na economia global e fortalecer a voz e a representação dos mercados emergentes e dos países em desenvolvimento".
INCERTEZAS
Forjar um acordo para aumentar o poder de fogo de 1 bilhão de dólares do FMI para lhe permitir responder a outra crise econômica de grande escala foi uma das principais tarefas da diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, nas reuniões anuais do FMI-Banco Mundial esta semana em Marrocos.
Mas a semana foi ofuscada pelo crescente conflito entre Israel e Gaza, e Georgieva encerrou o evento com um alerta sobre o aumento da incerteza econômica global.
"Posso dizer que o choque que as pessoas sentiram apareceu nas nossas reuniões", disse Georgieva, observando que o foco das atenções foi mudando dos ataques a "civis inocentes" em Israel para "a necessidade de encontrar maneiras de evitar a perda de vidas civis em Gaza".
"O que vemos, é claro, é um reconhecimento de que essa é mais uma fonte de incerteza", disse ela, acrescentando que muito dependerá de seu escopo e duração.