SARAJEVO (Reuters) - O Parlamento da República Sérvia Autônoma da Bósnia adotou um relatório nesta quinta-feira declarando que o assassinato de 8.000 muçulmanos em Srebrenica durante a guerra da Bósnia não constituiu genocídio, contrariando decisões de tribunais internacionais.
O massacre de 1995, ocorrido na semana seguinte ao ataque das forças sérvias da Bósnia à zona de segurança da ONU em Srebrenica, foi considerado a pior atrocidade da Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
A decisão parlamentar vem em um momento em que os sérvios fazem campanha contra uma resolução para marcar o genocídio de Srebrenica em discussão nas Nações Unidas, com previsão de ser votada na Assembleia Geral no início de maio.
"O genocídio não aconteceu, tal qualificação deve ser descartada", disse o presidente nacionalista da República Sérvia, Milorad Dodik, aos parlamentares. "O povo sérvio não cometeu genocídio."
O presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, disse na semana passada que a Sérvia lutará contra a adoção da resolução da ONU que colocaria a culpa nos sérvios, temendo que ela possa servir de base para a Bósnia exigir reparações de guerra da Sérvia, aliada dos sérvios da Bósnia durante a guerra.
As autoridades da República Sérvia da Bósnia também convocaram os cidadãos a participarem de uma reunião em massa na capital de fato da região, Banja Luka, ainda nesta quinta-feira, para protestar contra a resolução da ONU, que, avisaram, nunca aceitarão.
O Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (ICTY), com sede em Haia, estabeleceu em uma série de vereditos nas últimas duas décadas que o massacre de 8.000 homens e meninos muçulmanos em Srebrenica constituiu genocídio.
Em 2007, o Tribunal Internacional de Justiça confirmou essa declaração, afirmando ainda que a Sérvia falhou ao não evitar a ocorrência do genocídio.
Homens, a maioria deles desarmados, foram executados enquanto tentavam escapar do enclave oriental após ele cair nas mãos das forças sérvias da Bósnia em 11 de julho de 1995. Eles foram mortos em massa e seus restos mortais foram retirados anos depois de valas comuns.
As forças sérvias eram comandadas pelo general Ratko Mladic, sentenciado a prisão perpétua em 2017 pelo ICTY por genocídio e crimes contra a humanidade ao orquestrar massacres e limpeza étnica durante a guerra da Bósnia.
Um relatório de 2021 de um grupo de especialistas estrangeiros, encomendado pelo governo da República Sérvia, concluiu, no entanto, que ocorreram crimes em Srebrenica, mas não genocídio, reduzindo pela metade o número de mortos e afirmando que a maioria dos óbitos ocorreu em combate.
O projeto de resolução da ONU, iniciado pela Alemanha, Ruanda e co-patrocinado pelos Estados Unidos, Bósnia e Herzegovina e outros países, pede que o dia 11 de julho seja oficialmente declarado o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Genocídio de Srebrenica.
Também pede a condenação de qualquer negação do genocídio.
(Reportagem de Daria Sito-Sucic)