BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) - O Palácio do Planalto disse em nota nesta sexta-feira esperar que a decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de romper com o Executivo não se reflita em suas atividades como presidente da Casa e afirmou que atua com "total isenção" em relação às investigações realizadas pelas autoridades competentes.
Mais cedo, Cunha anunciou seu rompimento com o governo e sua ida para a oposição por conta do que, segundo ele, é uma ação conjunta do governo com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para constrangê-lo nas investigações da operação Lava Jato, que investiga um esquema bilionário de corrupção na Petrobras (SA:PETR4).
"O presidente da Câmara anunciou uma posição de cunho estritamente pessoal. O governo espera que esta posição não se reflita nas decisões e nas ações da presidência da Câmara, que devem ser pautados pela imparcialidade e pela impessoalidade", afirmou o governo em nota divulgada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República.
"O governo sempre teve e tem atuado com total isenção em relação às investigações realizadas pelas autoridades competentes, só intervindo quando há indícios de abuso ou desvio de poder praticados por agentes que atuam no campo das suas atribuições", acrescenta a nota.
O comunicado lembra ainda que o PMDB apoia os governos petistas desde a época do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e afirma que o partido, que tem seis ministros no governo da presidente Dilma Rousseff, além do vice-presidente Michel Temer, continuará a ter "um papel importante" para o governo.
Na quinta-feira, em depoimento à Justiça Federal do Paraná, o empresário Julio Camargo, um dos delatores da Lava Jato, disse que Cunha pediu pessoalmente a ele 5 milhões de reais em propina, o que foi negado pelo presidente da Câmara.
Cunha viu no episódio, aliado ao que ele chamou de uma "devassa fiscal" promovida contra ele, uma ação "orquestrada" entre o governo e Janot para constrangê-lo. Por isso, disse, anunciou nesta sexta-feira o rompimento com o Executivo.
Cunha disse ainda que defenderá durante Congresso do PMDB em setembro que o partido siga sua posição, rompendo com o governo e caminhando para a oposição.
Disse, no entanto, que sua posição pessoal de romper com o Palácio do Planalto não alterará "em uma vírgula" sua atuação institucional como presidente da Câmara.
Também em nota, o PMDB afirmou que a posição de Cunha é pessoal e respeitada pelo partido, mas que uma posição partidária só pode ser tomada pelas instâncias decisórias da legenda.
(Por Eduardo Simões)