Por Marton Dunai
BICSKE, Hungria (Reuters) - A polícia húngara parou um trem repleto de imigrantes a caminho da fronteira com a Áustria e tentou forçá-los e desembarcar em uma cidade com um campo de detenção nesta quinta-feira, gerando um confronto que se tornou foco da crise migratória na Europa.
Depois de impedir o acesso de imigrantes à principal estação de trem da capital Budapeste durante dois dias, as autoridades húngaras permitiram que os imigrantes, exaustos e confusos, embarcassem em um trem para o oeste. Centenas se espremeram nas composições, agarrando-se às portas e empurrando os filhos pelas janelas.
Mas, em vez de seguir para a divisa austríaca, o trem foi detido na cidade de Bicske, a oeste de Budapeste, onde a Hungria tem um centro de recepção de imigrantes, e a polícia ordenou que todos desembarcassem.
Policiais esvaziaram um dos vagões, enquanto outros cinco ficaram na estação expostos ao calor. Temendo a detenção, alguns imigrantes bateram nas janelas entoando "Campo não! Campo não!".
Um grupo empurrou dezenas de policiais da tropa de choque que guardavam uma escadaria para poderem voltar ao trem. Uma família –homem, mulher e uma criança de colo– foram para os trilhos, onde se deitaram em protesto. Foi necessário que policiais se atracassem com o homem para obrigá-los a se levantar.
Milhares de pessoas já morreram no mar e dezenas em terra na pior crise migratória europeia desde as guerras iugoslavas dos anos 1990.
A opinião pública europeia ficou chocada com as imagens de um menino sírio de 3 anos que foi encontrado afogado em uma praia da Turquia, divulgadas na primeira página de jornais de todo o continente nesta quinta-feira.
"Ele tinha nome: Alyan Kurdi. Exige-se uma ação urgente – Uma mobilização em toda a Europa é urgente", disse o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, no Twitter, sobre o menino, uma de pelo menos 12 pessoas de um grupo de 23 que pereceram tentando chegar à Grécia.
Os pais do menino declararam que a família almejava ir para o Canadá através da Europa quando partiu da costa turca rumo à ilha grega de Kos. Seu irmão Galip, de 5 anos, e sua mãe Rehan, de 35, também morreram. O pai, Abdullah, foi encontrado quase inconsciente e levado a um hospital.
Uma tia de Vancouver, Teema Kurdi, contou ter sabido da notícia por outra tia: "Ela recebeu uma ligação de Abdullah, e tudo que ele disse foi ‘minha esposa e meus dois meninos morreram'", teria dito ela, segundo o jornal canadense National Post.
A atual crise está abalando a União Europeia, comprometida com o princípio de aceitar refugiados em fuga de situações de perigo real, mas que não tem um mecanismo para instigar seus 28 países-membros a compartilharem esse fardo.
(Reportagem adicional de Krisztina Than e Sandor Peto)