Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O preço do boi gordo negociado no Estado de São Paulo atingiu nesta terça-feira 135,20 reais/arroba em média, o maior valor real da série do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) iniciada em 1994, pressionando as margens de lucro dos frigoríficos no país, o maior exportador de carne bovina do mundo.
"Os aumentos de preços são resultado da menor oferta, devido principalmente à seca, que vem prejudicando as condições das pastagens e, consequentemente, a engorda dos animais ao longo do ano", disse o Cepea em nota.
O indicador Esalq/BM&FBovespa, que apura os preços à vista e serve de referência para o mercado, tem quebrado recordes nominais (sem considerar a inflação) frequentemente nas últimas semanas, mas o valor registrado nesta terça-feira é o maior deflacionado.
Até então, o recorde real do indicador havia sido verificado em novembro de 2010, de 134,94 reais/arroba.
A carne bovina (carcaça casada, com osso) negociada no atacado da Grande São Paulo também está valorizada, embora o consumo interno mais lento esteja resultando em repasses de preços proporcionalmente menores que os aumentos da cotação da arroba, segundo especialistas.
O preço médio desta terça-feira, de 8,21 reais/kg, só está abaixo da média verificada em novembro de 2010, de 8,60 reais/kg (recorde real), afirmou o Cepea.
MARGENS MENORES
Com a alta da arroba e a dificuldade de repassar os custos recordes, a margem de lucro dos frigoríficos caiu para 10,1 por cento, ao menor nível desde março de 2011, apontou nesta terça-feira relatório da Scot Consultoria.
O indicador Equivalente Scot Carcaça --que considera a diferença entre a receita obtida pelo frigorífico com a venda de carne com osso, couro, sebo, miúdos, subprodutos e derivados, em relação ao preço pago pela arroba-- caiu dez pontos percentuais ante o nível registrado em agosto, disse a Scot.
A média histórica do indicador, levantado desde 2007, é de 15,8 por cento.
Segundo a Scot, a cotação do boi gordo subiu 16,5 por cento desde o início do ano, com a seca afetando a recuperação das pastagens e consequentemente a engorda dos animais criados em pasto --o sistema de produção predominante no Brasil.
"Boa parte desta valorização ocorreu de agosto para cá, com a retração expressiva da oferta de boiadas de pasto", afirmou a Scot.
De acordo com a consultoria, "há dificuldade na aquisição de bovinos e este cenário tem guiado mais os preços do boi gordo do que o consumo de carne bovina".
A Scot ressaltou que o brasileiro está consumindo menos carne em função da alta de preços do produto.
E, com isso, de agosto para cá o mercado atacadista "tem patinado", com os frigoríficos conseguindo repassar apenas 1,6 por cento de alta.