Por Paul Taylor e Renee Maltezou
BRUXELAS (Reuters) - O primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, enfrentava um impasse com rebeldes do seu próprio partido, furiosos com a rendição às exigências alemãs para um dos pacotes de austeridade mais abrangentes já exigidos de um governo da zona do euro.
Apenas horas depois de um acordo no qual a Grécia entregou grande parte da sua soberania a uma supervisão externa em troca de concordar com negociações sobre um resgate de 86 bilhões de euros, as dúvidas surgiam sobre se Tsipras seria capaz de manter seu governo unido.
Os termos impostos pelos credores internacionais liderados pela Alemanha, em negociações que duraram a noite toda em uma cúpula de emergência, obrigaram Tsipras a abandonar as promessas de acabar com a austeridade.
Em vez disso, ele precisará aprovar uma legislação para cortar pensões e aumentar impostos, entre outras medidas. O premiê também deve separar 50 bilhões de euros em ativos do setor público para serem vendidos sob a supervisão de credores estrangeiros e ter todo esse pacote aprovado no Parlamento até quarta-feira.
O próprio Tsipras, eleito para acabar com cinco anos de austeridade sufocante na Grécia, disse que havia "lutado uma dura batalha" e "evitado o plano de estrangulamento financeiro".
No entanto, para conseguir o acordo no Parlamento até o prazo de quarta-feira, ele terá que confiar em votos dos partidos da oposição, levantando grandes questões sobre o futuro de seu governo e abrindo a perspectiva de eleições antecipadas.
Rebeldes de esquerda no partido governista, o Syriza, e seu parceiro de coalizão indicaram que não irão descumprir as promessas eleitorais que os levaram ao poder em janeiro.
"Não podemos concordar com isso", disse a jornalistas o líder do partido Gregos Independentes, Panos Kammenos, após reunião com Tsipras. "Em uma democracia parlamentarista, há regras e nós nos mantemos firmes a elas".
ACORDO CONDICIONAL
Se a cúpula sobre o terceiro resgate à Grécia tivesse falhado, o país estaria diante de um abismo econômico com seus bancos à beira do colapso e da perspectiva de ter que imprimir uma moeda paralela e deixar a zona do euro.
"O acordo foi trabalhoso, mas foi concluído. Não há saída da Grécia (da zona do euro)", disse o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, após 17 horas de discussões.
Ele descartou sugestões de que Tsipras havia sido humilhado mesmo que o comunicado final da cúpula tenha insistido repetidamente que a Grécia terá que daqui em diante sujeitar grande parte de sua política pública à concordância prévia dos monitores do resgate.
Os ministros das Finanças da zona do euro disseram às autoridades para preparar opções por mecanismos de financiamento-ponte durante as conversas sobre um pacote de resgate e uma decisão é esperada para quarta-feira.
Atenas precisa cumprir um prazo rigoroso para realizar reformas não populares, como aumentos de impostos e cortes de gastos e de benefícios previdenciários.
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, afirmou que pode recomendar "com total confiança" que o Parlamento alemão autorize a abertura de negociações de empréstimo com Atenas assim que o Parlamento grego aprovar o programa completo e as primeiras leis.
Tsipras aceitou compromisso relativo a demandas lideradas pela Alemanha para o sequestro de ativos estatais gregos avaliados em 50 bilhões de euros --incluindo bancos recapitalizados-- em um fundo além do alcance do governo, a ser vendido principalmente para reduzir a dívida.
Em um gesto para a Grécia, cerca de 12,5 bilhões de euros dos rendimentos irão para investimentos no país, disse Merkel.
O líder grego teve que desistir de sua oposição a um envolvimento pleno do Fundo Monetário Internacional (FMI) no próximo resgate, o que Merkel insistiu para conseguir o apoio parlamentar em Berlim.
(Reportagem de Alastair Macdonald, Andreas Rinke, Tom Koerkemeier, Philip Blenkinsop, Julia Fioretti, Alexander Saeedy, Robert-Jan Bartunek e Julien Ponthis, em Bruxelas; George Georgiopoulos e Lefteris Karagiannopoulos, em Atenas)