ISTAMBUL (Reuters) - O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, afirmou neste domingo que não respeita ou aceita a decisão da corte constitucional turca que determina que a prisão de dois jornalistas de um grande jornal oposicionista foi uma violação aos direitos dos profissionais detidos.
Can Dundar, editor-chefe do Cumhuriyet, e Erdem Gul, chefe do escritório do jornal em Ancara, foram soltos antes de passarem por julgamento na sexta-feira, após a decisão da corte.
A detenção deles em novembro do ano passado, depois que o Cumhuriyet publicou um vídeo que supostamente mostrava a agência de inteligência estatal ajudando a enviar armas para a Síria, foi condenada em todo o mundo e desencadeou debate sobre a liberdade de imprensa na Turquia.
"Vou permanecer em silêncio com a decisão do tribunal. Mas eu não preciso aceitá-la, quero deixar isso claro. Eu não obedeço ou respeito a decisão", disse Erdogan a repórteres em Istambul antes de partir em visita oficial à África Ocidental.
"Isto não tem nada a ver com a liberdade de imprensa. Este é um caso de espionagem", disse ele.
Os dois foram acusados de ajudar intencionalmente uma organização terrorista armada e de publicar material em violação de segurança do Estado. O Cumhuriyet publicou fotos, vídeos e um relatório em maio passado no qual mostrava funcionários da agência estatal de inteligência transportando armas para a Síria em caminhões em 2014.
Apesar da soltura, os dois jornalistas podem até ter de cumprir prisão perpétua e estão proibidos de deixar o país. O julgamento deve começar no dia 25 de março.
O presidente Erdogan, que classificou a cobertura do jornal como parte de uma tentativa de destruir a reputação da Turquia, disse que não vai perdoar a divulgação dos documentos.