Por Estelle Shirbon
CANTERBURRY, Inglaterra (Reuters) - Um sudanês que percorreu o Eurotúnel a pé no ano passado, dando um exemplo extremo das medidas desesperadas que alguns refugiados estão preparados para tomar para chegar à Grã-Bretanha, foi condenado a nove meses de prisão nesta quarta-feira, mas saiu livre do tribunal por causa do tempo que já passou detido.
Abdul Haroun, de 40 anos, se declarou culpado de obstruir uma ferrovia ao Tribunal da Coroa de Canterbury.
Haroun, que fugiu de sua casa na região violenta de Darfur, no Sudão, foi preso pela polícia britânica depois de caminhar 50 quilômetros a partir da França na escuridão quase total enquanto trens passavam ao lado. Ele foi o primeiro refugiado de que se tem conhecimento a ter atravessado o Eurotúnel a pé.
A corte ouviu que ele contou aos policiais ter saltado uma cerca divisória perto do porto francês de Calais e evitado os trens se agarrando a ganchos de metal nas paredes quando os ouvia se aproximarem.
"Mesmo que eu morresse, não havia outra solução", disse.
Haroun passou cinco meses na prisão até receber asilo em dezembro e foi solto sob fiança no mês seguinte, mas continuou a enfrentar uma acusação criminal. Inicialmente ele havia se declarado inocente, mas mudou seu depoimento nesta quarta-feira.
A operadora do túnel, a Eurotunnel, e alguns políticos haviam pedido que ele fosse punido com todo o rigor da lei para desestimular outros a repetirem sua façanha, mas defensores dos direitos dos refugiados disseram que ele não deveria ter sido processado pela maneira que entrou no país.