SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL), criticou duramente o ajuste fiscal proposto pelo Executivo, classificando-o de "tacanho" e "insuficiente", e previu meses "nebulosos" pela frente, em vídeo divulgado pela TV Senado.
Ao prestar contas sobre as atividades do Senado no primeiro semestre, Renan disse que o país vive um "raro momento de protagonismo do legislativo" e elogiou o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que anunciou seu rompimento com o governo na sexta-feira.
"Acho que a atuação dele, sua independência, colaborou muito para este momento do Congresso Nacional", disse Renan, ressaltando que a independência do Legislativo é um "caminho sem volta".
Renan dedicou grande parte do pronunciamento de quase 17 minutos a criticar o ajuste econômico e falar sobre a crise política.
"O ajuste fiscal está mesmo se revelando como um desajuste social... Ele verdadeiramente ameaça as conquistas socieconômicas obtidas com tanto sacrifício", disse Renan, ressaltando que o Congresso não está disposto a aprovar aumento de impostos.
"Não vamos concordar com a asfixia da sociedade, enquanto o governo continuar perdulário e não alterar a sua postura diante das cobranças para diminuir gastos."
CRISE POLÍTICA
Renan comparou a situação política brasileira a um "filme de terror sem fim", e disse não saber o que irá acontecer, mas previu meses nebulosos pela frente, com uma agenda bastante pesada.
"Temos uma crise política, uma crise econômica, temos também uma crise de credibilidade, porque o sistema é presidencialista", disse Renan, acrescentando que o Congresso não irá contribuir para aumentar a instabilidade.
Durante o pronunciamento, Renan elogiou o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), e disse que vê com naturalidade a pretensão do PMDB de ter candidato próprio à presidência da República.
"A razão de ser de qualquer agremiação partidária é conquistar o poder pelo voto. Não somos defensores de soluções marginais, que estejam a margem da legalidade. O poder é conquistado nas urnas", disse Renan, em um momento em que cresce os discursos pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff.
(Por Raquel Stenzel)