Por Christian Shepherd e Linda Sieg
PEQUIM/TÓQUIO (Reuters) - Com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estabelecendo o terreno para a normalização das relações diplomáticas com a Coreia do Norte, inclusive dizendo que os exercícios militares com a Coreia do Sul irão acabar, a China apareceu como uma vencedora da cúpula de terça-feira, enquanto o Japão observa o resultado de cara fechada.
Trump e o líder norte-coreano, Kim Jong Un, prometeram nesta terça-feira trabalhar para a completa desnuclearização da península coreana, e assinaram um documento "abrangente" no histórico encontro em Cingapura.
Em troca, Washington se comprometeu a disponibilizar garantias de segurança para a Coreia do Norte, embora o comunicado conjunto não fosse muito específico.
Em uma entrevista coletiva após a cúpula, Trump disse que Washington terminaria com os exercícios militares caros e "altamente provocativos" com a Coreia do Sul, medida que preocupa Seul e Tóquio, que dependem das forças militares norte-americanas para sua segurança.
A China, mais importante aliada econômica e diplomática da Coreia do Norte apesar de seu descontentamento com os testes nucleares e de mísseis de Pyongyang, gastou pouco tempo com um lembrete de que as sanções da ONU poderiam ser ajustadas se a Coreia do Norte se comportasse bem.
"As resoluções do Conselho de Segurança da ONU que foram aprovadas dizem que se a Coreia do Norte respeitar e agir de acordo com elas, então as sanções podem ser ajustadas, incluindo pausas ou remoção de sanções relevantes", disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Geng Shuang, em um briefing à imprensa.
O Global Times, um influente jornal estatal chinês, disse em um editorial que era hora de considerar uma "redução apropriada das sanções".
O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, ressaltou um aspecto positivo da reunião, elogiando o fato de que Trump disse em uma coletiva de imprensa que havia levantado a questão dos cidadãos japoneses capturados pela Coreia do Norte, embora não houvesse menção a isso no documento assinado por Kim e Trump.
Yoji Koda, um almirante aposentado que comandou a frota naval japonesa, e é pesquisador no Fairbank Center para estudos Chineses na Universidade Harvard, disse que o comunicado não continha nada de novo ou de concreto.
"Um dos pontos chaves que Trump e seus conselheiros fizeram foi que os EUA não irão repetir erros de acordos anteriores", disse. "Ao ler este documento, eu não acredito que os EUA serão bem-sucedidos."
O gabinete da Presidência da Coreia do Sul disse que é preciso buscar transparência nas intenções de Trump depois que ele disse que irá interromper os exercícios militares conjuntos.
O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, que tem sido importante nos esforços de negociação com o Norte e com Kim, prometeu cooperação total.
"O meu governo não poupará esforços para cooperar com os Estados Unidos, com a Coreia do Norte, e com a comunidade internacional para garantir que o acordo possa ser implementado inteiramente", disse Moon em nota.