Por Polina Nikolskaya e Andrew Osborn
MOSCOU (Reuters) - O alerta de uma autoridade de saúde de que qualquer pessoa que for vacinada contra Covid-19 com a vacina russa Sputnik V deve parar de beber álcool por quase dois meses deixou alguns russos desapontados.
Anna Popova, chefe da agência de saúde do consumidor, disse à rádio Komsomolskaya Pravda, na terça-feira, que as pessoas devem parar de beber álcool pelo menos duas semanas antes de tomar a primeira das duas injeções, e se abster por mais 42 dias.
A Sputnik V, licenciada sob um processo acelerado antes do final dos testes clínicos, foi dada a médicos, soldados, professores e assistentes sociais na primeira etapa, e uma vacinação em grande escala nacional deve começar esta semana. As duas injeções são administradas em um intervalo de 21 dias.
"Isso realmente me incomoda", disse Elena Kriven, moradora de Moscou. "É improvável que eu consiga ficar sem beber por 80 dias e acho que o estresse no corpo por ficar sem álcool, especialmente durante o período de festas, seria pior do que (efeitos colaterais da) vacina e seus supostos benefícios", afirmou.
Muitos russos passarão os primeiros 10 dias de 2021 relaxando em casa ou no exterior, um período associado a um maior consumo de álcool.
Os russos estão entre os que mais bebem no mundo, embora o consumo venha caindo drasticamente desde 2003.
Popova alertou que o álcool reduziria a capacidade do corpo de criar imunidade à Covid-19.
"É uma pressão para o corpo. Se queremos ser saudáveis e ter uma forte resposta imunológica, não bebam álcool", disse ela.
O alerta foi desmentido por Alexander Gintsburg, o desenvolvedor da vacina. A conta da Sputnik V no Twitter publicou nesta quarta-feira uma recomendação dele com uma imagem do ator de Hollywood Leonardo DiCaprio erguendo uma taça de champanhe.
"Uma taça de champanhe não fará mal a ninguém, nem mesmo ao seu sistema imunológico", disse Gintsburg.
Ele afirmou que seria prudente reduzir o uso de álcool em uma quantidade razoável enquanto o corpo aumenta a imunidade, mas disse que não havia necessidade de se abster completamente.
No entanto, segundo ele, é crucial evitar o álcool três dias antes e depois das duas injeções necessárias. Ele disse que esse conselho é o mesmo para qualquer pessoa que se vacine em todo o mundo e não é específico para a Rússia ou a Sputnik.
O tópico gerou uma discussão animada nas redes sociais.
"Vocês deveriam ter falado (sobre a redução do álcool) em primeiro lugar", escreveu um usuário do Facebook, Pavel Goriachkin. "É absolutamente impossível para a maioria das pessoas em nosso país."
Outro usuário, Konstantin Roninyo, escreveu: "Nem eu vou me inscrever, apesar de beber raramente. Beber no Ano Novo é sagrado!"