Por Helen Murphy e Julia Symmes Cobb
BOGOTÁ (Reuters) - O governo da Colômbia e as Farc terão que se empenhar nesta segunda-feira para ressuscitar um plano de encerramento da guerra de 52 anos depois que a população rejeitou um acordo duramente negociado, mas visto por alguns como leniente demais com os rebeldes, um resultado chocante que mergulhou a nação na incerteza.
Mantendo a compostura após a pesada derrota política, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, deu esperanças aos apoiadores de sua negociação de paz de quatro anos com as Farc em Cuba. O conflito mais longo da América Latina deixou 220 mil mortos.
"Não desistirei, continuarei buscando a paz até o último minuto do meu mandato", disse ele momentos depois de perder o plebiscito de domingo para aqueles que desejam uma renegociação do acordo ou a aniquilação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) no campo de batalha.
Santos planeja se reunir com todos os partidos políticos nesta segunda-feira e enviar o principal negociador de paz do governo, Humberto de la Calle, de volta a Havana para conversar com a liderança dos guerrilheiros.
Rodrigo Londoño, principal comandante das Farc e mais conhecido pelo pseudônimo Timochenko, também deu garantias de que os rebeldes continuam comprometidos em se tornar um partido político pacífico.
"As Farc reiteram sua disposição de usar somente palavras como arma para construir para o futuro", afirmou Timochenko após o resultado. "Contem conosco, a paz irá triunfar".
Santos, de 65 anos, que não era obrigado por lei a realizar um plebiscito, disse não haver um plano B para o fracasso da consulta popular, mas agora parece disposto a analisar opções.
Os colombianos, mesmo aqueles que apoiaram o 'não', expressaram surpresa com o desfecho e incerteza sobre o futuro.
"Nunca achamos que isso poderia acontecer", disse a socióloga Mabel Castano, de 37 anos, que votou contra o acordo. "Agora só espero que o governo, a oposição e as Farc pensem em alguma coisa inteligente que inclua todos nós".
O acordo de paz alcançado no mês passado, e assinado uma semana atrás, oferecia aos combatentes rebeldes a possibilidade de entregarem as armas à Organização das Nações Unidas (ONU), confessar seus crimes e formar um partido político baseado na ideologia marxista.
As Farc, que começaram como uma revolta camponesa em 1964, poderiam concorrer nas eleições presidencial e legislativa de 2018 e tinham a garantia de 10 assentos no congresso até 2026.
Isso revoltou os defensores do "não"', incluindo o influente ex-presidente Álvaro Uribe, que argumentou que os rebeldes deveriam cumprir penas na prisão e jamais ter permissão de ingressar na política.
(Reportagem adicional de Luis Jaime Acosta, Nelson Bocanegra, Carlos Vargas e Monica Garcia)