Por Amy Sawitta Lefevre
BANGCOC (Reuters) - Predominantemente budista, a Tailândia irá relaxar suas regras rígidas contra o aborto para casos de fetos com defeitos congênitos comprovados ligados ao Zika vírus, informaram autoridades de saúde do país nesta quinta-feira, dobrando para 24 semanas o prazo para a realização do procedimento.
A Tailândia confirmou na semana passada seus primeiros casos de microcefalia ligados ao Zika vírus, as duas primeiras ocorrências da má-formação craniana no sudeste da Ásia na esteira de surtos de Zika nas Américas.
Especialistas de saúde tailandeses que se reuniram nesta semana para delinear as diretrizes para gestantes com Zika concluíram que os abortos podem ser realizados até a 24ª semana em casos de defeitos congênitos graves.
"A dificuldade com o Zika é determinar a microcefalia. Normalmente ela é descoberta mais tarde na gravidez", disse Pisek Lumpikanon, presidente do Real Colégio Tailandês de Obstetras e Ginecologistas, à Reuters.
"Os abortos médicos legais podem ser feitos até a 24ª semana", acrescentou. "A razão é que com 24 semanas e além o bebê já tem uma boa chance de sobreviver".
O aborto é ilegal na Tailândia, exceto em casos de estupro e para salvar a vida da mãe ou preservar sua saúde, e se realizado com até 12 semanas de gravidez. Depois desse prazo, os hospitais têm que decidir caso a caso.
Não existem testes específicos para determinar se um bebê irá nascer com microcefalia, mas exames de ultrassom podem identificá-la no terceiro trimestre da gestação, diz a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A Tailândia informou estar cogitando examinar todas as gestantes para detectar o Zika.
O monitoramento inadequado das autoridades de saúde do sudeste asiático pode fazer com que os relatos de disseminação do Zika fiquem aquém da realidade, dizem especialistas regionais.
A Tailândia confirmou 392 casos de Zika desde janeiro, sendo 39 deles de mulheres grávidas, e a rica cidade-estado de Cingapura registrou 393 casos, incluindo 16 gestantes.
Apesar de sua reputação de negligência entre turistas, a Tailândia continua sendo essencialmente conservadora, e o budismo Theravada, a forma de religião praticada por até 95 por cento de sua população, encara o aborto como um pecado.
Isso pode levar alguns médicos a se recusarem a encerrar gestações, disse Pisek, acrescentando: "O budismo não irá afetar a lei, mas alguns médicos podem se recusar".
(Reportagem adicional de Panarat Thepgumpanat)