Por Noah Browning
DUBAI (Reuters) - O Iêmen está emergindo como um verdadeiro campo de testes para a abordagem enérgica do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a Al Qaeda e o Irã, mas suas primeiras ações em solo iemenita criam o risco de mergulhar seu governo ainda mais na tortuosa guerra local de dois anos.
No mês passado, uma operação norte-americana matou vários militantes da Al Qaeda, mas também causou a morte de um militar da tropa de elite dos EUA Seal e vários civis, e o envio de um destróier para patrulhar o litoral do Mar Vermelho atraiu a ira do movimento houthi do Iêmen, um aliado do Irã.
A sequência de operações realizadas desde que Trump tomou posse em 20 de janeiro incluiu três ataques com drones (aeronaves não-tripuladas) contra possíveis militantes da Al Qaeda e um reforço no apoio logístico a uma campanha liderada pelos sauditas contra os houthis que começou durante a gestão de seu antecessor, Barack Obama.
Há tempos Washington vem apoiando o governo iemenita exilado contra seus inimigos houthis e da Al Qaeda, que também lutam entre si. Mas o enfoque mais beligerante de Trump pode ter consequências indesejáveis, alertam analistas e autoridades do Iêmen, revertendo esforços feitos por Obama para se chegar a um acordo de paz e atiçando duas organizações hostis aos interesses dos EUA.
"Ao invés de conduzir a uma solução política que quase todos concordam ser a única maneira de solucionar o conflito, parece que as ações do governo Trump só estão jogando gasolina no fogo", avaliou Adam Baron, especialista em Iêmen do Conselho Europeu de Relações Externas.
Reagindo à operação dos fuzileiros navais, um líder tribal iemenita disse: "Se eles tivessem simplesmente bombardeado o lugar, teria sido muito mais fácil e menos arriscado, mas parece que Trump está tentando dizer 'sou um homem de ação!'".
"Parece que o novo presidente assistiu muitos filmes de Steven Seagal", acrescentou, referindo-se ao astro de filmes de ação.
Ao tomar a capital Sanaa, os houthis expulsaram o governo reconhecido internacionalmente em 2015 e hoje controlam a maioria dos centros populacionais no país majoritariamente desértico e montanhosos situado no extremo da Península Arábica.
O movimento islâmico xiita, que nega receber qualquer ajuda militar do Irã, retrata Washington como um agressor na guerra que já matou mais de 10 mil pessoas e vem provocando fome e doenças.
As ações norte-americanas mais recentes representam um risco de alimentar esta narrativa.