Por Michael Martina
WASHINGTON (Reuters) - Fazendo campanha por um segundo mandato, o ex-presidente Donald Trump tornou uma postura dura em relação à China o ponto central de sua política externa.
No entanto, se Trump for eleito em 5 de novembro, tanto ele quanto os líderes chineses enfrentarão uma realidade incômoda: muitos dos principais candidatos a cargos de política externa em um governo Trump foram sancionados pela China e impedidos de entrar no país.
Logo depois do presidente norte-americano, Joe Biden, assumir o cargo em 2021, a China tomou a medida sem precedentes de sancionar 28 ex-autoridades do governo Trump por seus papéis no que Pequim considerou como políticas anti-China, uma aposta de que os dias do ex-presidente na Casa Branca haviam acabado.
As sanções, que incluem proibições de viagens à China, se aplicam a ex-autoridades, como o secretário de Estado de Trump, Mike Pompeo, que Pequim chamou de mentiroso e "palhaço", e o ex-conselheiro de segurança nacional, Robert O'Brien.
Pompeo não descartou a possibilidade de trabalhar para Trump novamente, e fontes com conhecimento do relacionamento de Trump com O'Brien dizem que ele provavelmente terá um papel significativo em um eventual segundo mandato de Trump. Segundo as pesquisas de opinião, a disputa eleitoral entre o republicano Trump e a democrata Kamala Harris está essencialmente empatada.
No mínimo, as relações abertamente hostis da China com possíveis tomadores de decisão em um segundo governo Trump levantariam questões sobre como os EUA e a China poderiam navegar no que ambos os países descreveram como uma das relações bilaterais mais importantes do mundo.
"Esse problema é novo para a China", disse Wu Xinbo, diretor do Centro de Estudos Americanos da Universidade Fudan, em Xangai. "Se essas autoridades anteriormente sancionadas retornarem ao governo dos EUA, acho que, do ponto de vista da China, é muito improvável que as sanções sejam canceladas imediatamente."
Mas Pequim teria que lidar com o problema, dizem especialistas e ex-autoridades do governo Trump.
"Eles terão que recuar, caso contrário, não haverá nenhuma negociação com o PCC (Partido Comunista Chinês)", disse à Reuters uma ex-autoridade da administração Trump que ainda trabalha para o governo dos EUA e foi sancionada. A pessoa falou sob condição de anonimato devido às sensibilidades em torno de quem poderia conseguir empregos em um novo governo Trump.
A embaixada da China em Washington não quis comentar.
"O presidente Trump colocará os Estados Unidos em primeiro lugar, selecionando autoridades para seu governo que ele considera mais aptos a servir o povo norte-americano -- quer a China goste ou não", disse à Reuters a porta-voz da campanha de Trump, Karoline Leavitt.
SANÇÕES POR "AÇÕES MALUCAS"
Em janeiro de 2021, a China sancionou nominalmente 10 ex-autoridades do governo Trump por "ações malucas" que, segundo ela, "interferiram gravemente nos assuntos internos da China".
Além de Pompeo e O'Brien, a China atingiu o principal diplomata de Trump para o Leste Asiático, David Stilwell, o ex-economista da Casa Branca, Peter Navarro, e Keith Krach, uma autoridade que despertou a ira de Pequim quando visitou Taiwan em 2020, entre outros. Alguns dos sancionados, incluindo o ex-conselheiro de segurança nacional John Bolton, tiveram discussões públicas com Trump, tornando improvável um retorno em um segundo governo.
Na época, a China sancionou outras 18 pessoas sem revelar suas identidades.
Pompeo e O'Brien não responderam aos pedidos de comentários.
(Reportagem de Michael Martina; Reportagem adicional de Laurie Chen, em Pequim)