Por Sarah Marsh e Maximiliano Rizzi
BUENOS AIRES (Reuters) - Celeste Perosino estava investigando possíveis crimes cometidos pelo banco central da Argentina durante a chamada “Guerra Suja”, período da ditadura militar de décadas atrás, antes que a sua equipe fosse dissolvida pelo novo presidente conservador do país, Mauricio Macri.
Dias antes da chegada do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, à Argentina para uma rara visita de um líder norte-americano ao país, Celeste Perosino ridiculariza o elogio da Casa Branca a Macri, o chamando de “voz forte” dos direitos humanos.
"A decisão de fechar o escritório de direitos humanos do banco foi uma decisão que nós vemos como uma forma de perseguição política e ideológica”, afirmou ela.
Ela não é a única preocupada. A visita de Obama, que coincide com o aniversário do golpe de 1976, que em 24 de março daquele ano instaurou uma junta militar, que foi inicialmente apoiada pelos EUA, tem irritado vítimas da ditadura de sete anos e aumentado os questionamentos sobre as credenciais de Macri como um defensor convicto dos direitos humanos.
Macri, que assumiu o poder em dezembro, disse que o esforço da sua antecessora, a política de esquerda Cristina Kirchner, para punir os agentes militares da repressão tinha algo de vingança.
O gabinete de direitos humanos do seu governo teve a sua primeira reunião com famílias que sofreram nas mãos de militantes de esquerda nas décadas de 1970 e 1980, e não com vítimas de crimes militares.
Em fevereiro, o governo restabeleceu os direitos de autoridades militares que participaram em atrocidades de receber tratamento em hospitais militares.
Ativistas falam de violações preocupantes de direitos civis. Macri foi criticado pela prisão de ativista e também pelo uso de balas de borracha pela polícia contra um grupo comunitário ensaiando para o Carnaval, atividade que incluía crianças. O presidente concedeu à polícia mais poderes para encerrar protestos.
Cristina Kirchner foi amplamente elogiada por grupos de direitos humanos e pela esquerda por reabrir casos sobre abusos cometidos durante a ditadura, mas adversários de direita a acusaram de reabrir velhas feridas.
As forças de segurança mataram até 30 mil pessoas. Muitas delas foram “desaparecidas de maneira forçada”, um eufemismo para sequestradas e mortas, e centenas de crianças foram roubadas de pais que estavam presos.
O responsável pelos direitos humanos do governo Macri, Claudio Avruj, afirmou que o governo está comprometido em defender os direitos humanos e que responsáveis pelos crimes da ditadura iriam continuar a enfrentar a Justiça.
Nós categoricamente rejeitamos tudo que o golpe militar representou, a perseguição, o desaparecimento e a morte de cidadãos argentinos e estrangeiros”, declarou Avruj.
A viagem de Obama marca a primeira visita bilateral de um presidente norte-americano à Argentina em quase duas décadas. As relações azedaram bastante durante o governo de Cristina.
Na campanha presidencial do ano passado, Macri pressionou pela suspensão da Venezuela do Mercosul, citando supostos abusos contra direitos por parte do governo socialista.
"O presidente Macri tem sido uma voz forte pela democracia e os direitos humanos na América Latina”, disse o vice-assessor de Segurança Nacional de Obama, Ben Rhodes, no mês passado.