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Um Próspero Primeiro Ano à Vista?

Publicado 05.12.2018, 11:05
Atualizado 09.07.2023, 07:32

Muito tem se falado sobre a formação do novo governo capitaneada pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro. O consenso entre os analistas políticos é que a formação da nova equipe ministerial foge do modelo de presidencialismo de coalizão que perdurou nos últimos anos.

Isto porque Bolsonaro escolheu por não negociar a formação de governo diretamente com partidos, mas sim com nomes técnicos de confiança e também nomes ligados à bancadas cujos temas o presidente é alinhado.

Tal modelo é novidade no sistema político brasileiro, marcado até então pela obtenção da maioria parlamentar via alocação de recursos e cargos de liderança entre partidos. A escolha fora do tradicional se dá por motivos ideológicos: os governos com muitos partidos aliados contribuíram para a disseminação dos escândalos de corrupção e outras práticas ilícitas ou imorais. É natural, portanto, que Bolsonaro queira fugir desse esquema político.

No entanto, a opção do novo líder brasileiro deixa incertezas quanto à sua governabilidade. Primeiro, porque nunca houve no Brasil pós-redemocratização uma experiência de governo sem a distribuição proporcional de ministérios entre partidos. Segundo, porque grandes cientistas políticos apontam que dificilmente coalizões com bancadas temáticas se sustentam, uma vez que elas não têm liga suficiente para formar uma coalizão permanente, podendo se dissolver de acordo com seus interesses sobre variados temas.

Jogando a seu favor está o fato de o deputado ser eleito presidente pela primeira vez, inclusive representando uma mudança ideológica no governo e nas políticas públicas. Historicamente, mudanças na Presidência vêm acompanhadas de um aumento forte na avaliação positiva ("bom" ou "ótimo") de governo e queda acentuada na avaliação negativa ("ruim" ou "péssimo"). Os gráficos abaixo, elaborados pelo Ibope, comprovam os movimentos quando existe troca entre presidentes:

Popularidade dos presidentes

Nesse balanço, o governo já demonstrou estar determinado em não ceder ministérios para as siglas – pelo menos não em um primeiro momento. Seria ingenuidade achar que tal posição não faz parte de uma estratégia de governo. Portanto, acredito que a estratégia de Bolsonaro seja a seguinte:

a) ele reconhece que não governará sem partidos, mas optará pela obtenção de apoio partidário por convencimento de que seu programa de governo é positivo para o país – a outra opção de garantir apoio seria entrar no toma-lá-dá-cá.

b) o convencimento mistura a urgência de aprovação certas agendas com o respaldo popular conferido ao novo presidente nas últimas eleições. Essa popularidade constrange o Congresso, dando amplo poder para Bolsonaro conduzir e aprovar as pautas de sua escolha pelo menos nos primeiros 8, 9 meses.

c) o presidente esperou o preenchimento da sua equipe ministerial para procurar os partidos. Isso dá um recado para os líderes partidários (não será admitido qualquer tipo de barganha por cargos de primeiro escalão) e para a população, que esperava tal comportamento – fugindo da política tradicional.

d) passado um ano de governo e caso haja vitórias importantes do Executivo no Congresso, Bolsonaro deverá ceder e promover uma reforma ministerial, a fim de garantir governabilidade nos anos restantes. Contudo, o eventual aumento da aprovação de seu governo irá mitigar as (já menores) críticas sobre o uso do "toma-lá-dá-cá".

Se o plano de Bolsonaro for parecido com o descrito acima, há chances reais de um próspero primeiro ano para seu governo. A sua execução depende de grande capacidade de articulação política, algo que Bolsonaro demonstrou quando era membro do baixo clero da Câmara, mas que precisa ainda se provar no status que se encontra. Caso contrário, é bem provável que teremos um governo refém dos líderes políticos do legislativo, o que pode rapidamente corroer a popularidade de Bolsonaro.

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