O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, estava determinado a rejeitar qualquer noção de interferência política na decisão de elevar a taxa de juros em mais 0,25%, mas teve dificuldade para defender a alta em relação à inflação, que está abaixo da meta de 2% estabelecida pela própria instituição. Quando questionado por que o Fed elevou os juros com a inflação abaixo da meta e previsões do próprio banco sugerindo que continuará assim no próximo ano, Powell se aproximou ao máximo da ambiguidade, tanto quanto permitia seu compromisso com a franqueza.
Sua única resposta foi que esta elevação de juros, a nona desde que o banco central começou seu aperto monetário e a quinta trimestral consecutiva, era justificada em vista de uma “economia saudável”. No entanto, os formuladores da política do Fed reduziram um pouco suas previsões de crescimento, uma queda de 0,1 ponto percentual neste ano e até 2021, mas é discutível se uma taxa de 1,9 a 2% ainda é saudável.
Essa análise, no entanto, pode estar equivocada. O que levanta a questão: por que o Fed elevaria a taxa de juros somente nesta reunião, se nada sugere que isso é necessário?
Powell foi igualmente inconclusivo quando indagado sobre o espaço de tempo entre as elevações da taxa de juros no futuro, limitando-se a reiterar que os formuladores da política esperam duas altas de juros no próximo ano, em vez da previsão de três feita em setembro. Suas observações facilmente poderiam deixar a impressão de que o Fed elevou os juros nesta reunião simplesmente porque podia. Isso demonstra que não é necessário ouvir o presidente Trump ou qualquer outra pessoa que acredita que o momento dessa elevação pode estar errado.
Aperto quantitativo deve continuar; duas altas no próximo ano
Powell também não ofereceu aos investidores muitas esperanças quanto ao aperto quantitativo. Obviamente ele evitou as palavras “aperto quantitativo” e preferiu se referir a isso como “redução do balanço anual”. O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês), de acordo com ele, acredita que essa redução está funcionando muito bem no piloto automático, com cerca de US$ 50 bilhões por mês, e que o foco da política deve permanecer na taxa dos fundos federais.
Em seguida, os jornalistas direcionaram seus questionamentos à supervisão do banco, ao perceberem que não conseguiriam tirar mais nada do presidente em relação à política monetária.
Quanto ao balanço, o presidente do Fed parecia um pouco mais confuso e desconfortável do que nas coletivas de imprensa anteriores. Talvez o Fed esteja aliviado com o fim desta reunião em particular. O banco já havia previsto um aumento da taxa de juros e não conseguiu voltar atrás depois que o presidente da república começou a atacá-lo.
Talvez os investidores tivessem preferido um pouco mais de incerteza em relação aos dois aumentos de juros no próximo ano. Poderia ser um? Ou nenhum? Mas o compromisso foi mais evasivo do que aquele que levou a esta elevação dos juros.
O anúncio de consenso do Fed, aprovado por unanimidade pelos 10 membros votantes, inseriu a palavra “alguns” na frente da expressão “aumentos graduais na banda da meta dos fundos federais”, sugerindo que haveria um fim para esse processo.
Além disso, os formuladores da política rebaixaram sua previsão para o nível da taxa de referência no longo prazo de 3 para 2,8 por cento. Na verdade, poderiam ter afirmado que ficaria perto o suficiente daquele nível com apenas mais uma elevação dos juros no próximo ano. E eles adicionaram uma frase longa para declarar que a previsão parecia equilibrada em termos gerais, ao afirmar que “continuarão monitorando os desdobramentos financeiros e econômicos mundiais para avaliar suas implicações nas perspectivas econômicas”.
Entretanto, se o Fed tivesse se recusado a elevar os juros nesta reunião, a reação do mercado – todos os principais índices norte-americanos despencaram depois do anúncio – poderia ter sido ainda mais severa. A não elevação dos juros poderia ter demonstrado uma confiança muito menor na economia, além do fato de que teria sido uma preocupante concessão à pressão política.
A partir do próximo ano, o presidente do Fed fará uma coletiva de imprensa depois de todas as oito reuniões do FOMC. Isso faz com que cada reunião seja “ao vivo” – ou seja, suscetível a uma mudança na política monetária –, mas também coloca muita pressão sobre o Fed. Não é certo que o banco central vá elevar os juros em março, mas pode fazer isso em maio e não ter que esperar até junho.
Uma pausa pode durar o quanto for necessário. É possível que o Fed se abstenha de aumentar os juros em março e maio, ou até mais tarde, e mesmo assim poderá fazê-lo duas vezes em 2019, se desejar. Os futuros de fundos do Fed na CME mostram uma chance razoável de os juros permanecerem na faixa de 2,25-2,50 por cento estabelecida nesta semana até pelo menos outubro.