O mercado futuro de açúcar em NY fechou a semana praticamente inalterado em relação à semana passada. O vencimento março/2021 encerrou a sexta-feira cotado a 14.98 centavos de dólar por libra-peso, apenas 7 pontos acima do fechamento da semana anterior, ou aproximadamente 1.50 dólar por tonelada. Já os meses que cobrem a safra 21/22, ou seja, de maio/21 até março/22 a média de variação positiva foi de apenas meio dólar por tonelada. A safra seguinte continuou pressionada e teve queda média de 3 dólares por tonelada. Imagino que mais empresas estão aproveitando os bons preços em reais por tonelada para adicionar fixações.
Após a euforia da semana anterior, quando o real se valorizou frente ao dólar em mais de 6%, nesta semana a moeda americana encerrou a sexta cotada a R$ 5.4600, uma valorização de 0.8%. Assim, os açúcares para exportação fecharam equivalentes a R$ 1,678 por tonelada FOB na média da 21/22 e R$ 1,573 por tonelada FOB na média para a 22/23. Uma melhora de R$ 13 por tonelada em ambas.
O mercado ainda convive com a dúvida acerca da reedição do subsidio indiano. O senso comum aponta para uma redução das atuais 10,400 rúpias para um nível mais palatável em conformidade com a complicada situação fiscal que o país enfrenta com a pandemia e a redução drástica na atividade econômica. Segundo a revista The Economist, o PIB indiano encolheu 23.9% no trimestre. Nosso cálculo aponta que se o subsídio de exportação fosse reduzido em 25%, para cerca de 7,800 rúpias a Índia ainda estaria competitiva nos atuais níveis de preços de açúcar em NY.
A exportação brasileira de açúcar no mês de outubro chegou a 4.2 milhões de toneladas, o maior volume registrado num único mês desde outubro de 2012 (3.9 milhões de toneladas). Esse volume é 119% maior do que aquele observado em outubro de 2019. No acumulado do ano calendário já exportamos mais de 25 milhões de toneladas, 71% acima do mesmo período do ano passado. No ano safra (abril a outubro/2020) chegamos em 20.8 milhões de toneladas, 84% acima do mesmo período anterior. Tudo leva a crer que as exportações na safra poderão quebrar o recorde histórico que atingiu quase 29 milhões de toneladas de açúcar.
A exportação de etanol também cresceu 34.5% no acumulado de doze meses encerrados em outubro. 2,49 bilhões de litros é o volume exportado cobrindo o período de novembro/19 até outubro/20.
O mercado de açúcar continua seguindo o apetite dos fundos, cuja posição com base na terça-feira passada só será divulgada na próxima segunda devido a um feriado nos EUA. Estamos seguros que o mercado de açúcar pode eventualmente subir um pouco mais em centavos de dólar por libra-peso (talvez beliscando 15.50 centavos de dólar por libra-peso base março). No entanto, em reais por tonelada acreditamos que os preços mais altos já foram vistos. As razões para essa confiança são as seguintes:
- A PERSPECTIVA DE MELHORA NOS PREÇOS DO PETRÓLEO É DIMINUTA; E O CONSUMO CAI. PODEMOS VER O REFLEXO DISSO AO LONGO DO PRIMEIRO SEMESTRE DO ANO QUE VEM;
- O CONSUMO DE AÇÚCAR TAMBÉM RECUA NO MUNDO, ENTRE 1.5 E 2.0 MILHÕES DE TONELADAS APENAS NA ÍNDIA;
- O BRASIL ESTÁ COLOCANDO UMA QUANTIDADE BEM GRANDE DE AÇÚCAR NO MERCADO INTERNACIONAL;
- O PIB DOS EUA DEVE FECHAR COM QUEDA DE 4.6%, ZONA DO EURO 8.3%, BRASIL DEVE CAIR CERCA DE 4.0% E ÍNDIA 9.8%; DIFÍCIL MANTER-SE OTIMISTA COM O ATUAL CENÁRIO;
- A CURVA DE PREÇOS DO AÇÚCAR EM NY TEM UMA TAXA DE DESCONTO DE 8% AO ANO, APROXIMADAMENTE, OU SEJA, DAQUI A UM ANO O AÇÚCAR EM CENTAVOS DE DÓLAR POR LIBRA-PESO ESTÁ 9.6% MAIS BARATO E UM DESCONTO ADICIONAL DE 5.2% SE APLICA NO ANO SEGUINTE;
As fixações de preço para a próxima safra, com base em 31 de outubro, alcançam 45%, o maior percentual para o período desde que a Archer Consulting começou a monitorar as fixações das usinas há nove anos. O preço apurado foi de 12.50 centavos de dólar por libra-peso, sem considerar o prêmio de polarização, equivalentes a R$ 1,541.97 por tonelada FOB Santos, ou R$ 0,6712 por libra-peso, ambas já incluindo o prêmio de polarização. Para a safra 2022/2023 nossa estimativa é que 11% já esteja fixado.
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Em 1822, quando o Brasil conquistou sua independência de Portugal, os Estados Unidos foram os primeiros a reconhecer o novo País. Desde então a relação entre os dois sempre foi de admirável cordialidade. Como prova dessa amizade, em 1876, por ocasião dos 100 anos da Independência dos EUA, o então Imperador do Brasil, Dom Pedro II foi convidado de honra para a Philadelphia Centennial Exposition, a maior feira de ciências do mundo até então e que fazia parte dos eventos comemorativos do centenário.
Dom Pedro II era uma pessoa muito querida da elite intelectual americana e o então presidente Ulysses Grant tinha por ele enorme admiração. Foi nessa ocasião que o Imperador conheceu a mais nova invenção apresentada na feira, o telefone de Alexander Graham Bell, de quem se tornou amigo e foi também a primeira pessoa a comprar ações da Bell Telephone Company.
Em 2020, numa atitude de total desaforo e arrogância, o presidente Bolsonaro ignorou o resultado da eleição americana e ainda não cumprimentou o presidente eleito Biden ao contrário da maioria absoluta dos chefes de governo de outros países. Bolsonaro está em companhia de Putin e de Xi Jinping, abraçado com sua indefectível mediocridade. Nunca satisfeito com suas bufonarias, disse num evento com empresários na última terça-feira, referindo-se à posição de Biden (sem citá-lo) em relação a Amazônia e eventuais barreiras comerciais contra o Brasil, “que quando acaba a saliva, tem que ser na pólvora”. Não há limites para a insanidade desse homem?
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É com enorme tristeza que comunico o falecimento, ocorrido na última segunda-feira, dia 9, do amigo Samuel Levy, que durante 35 anos comandou a Suporte & Resistência, referência no Brasil quando o assunto era análise gráfica dos mercados de commodities, com foco no açúcar e no café. Levy era um apaixonado pelo mercado e pela música clássica, em especial Beethoven e o violonista Itzhak Perlman. Levy deixou uma legião de entusiastas pela análise técnica, muitas crias dele. Vai fazer muita falta. Que possa ter o merecido descanso.