O mês de fevereiro entra na reta final com os investidores decididos a deixar para trás a turbulência recente que afetou os mercados globais e resgatar o apetite por ativos de risco, o que tende a impulsionar os negócios no Brasil. A perspectiva de maior crescimento econômico no mundo, com aumento no lucro das empresas, se sobrepõe ao receio de uma alta adicional na taxa de juros nos Estados Unidos neste ano, com a vasta liquidez de recursos ditando o rumo dos negócios.
O sinal positivo prevalece entre as bolsas hoje, após uma sessão de alta acelerada na Ásia, que embalou o início da sessão na Europa, diante dos ganhos apontados pelos índices futuros das bolsas de Nova York, após sinais de que o Federal Reserve não deve ser tão agressivo ("hawkish") no processo de aperto monetário. O dólar, por sua vez, perde terreno para as moedas de países desenvolvidos e correlacionadas às commodities, o que também impulsiona os metais básicos. Já o petróleo recua.
Lá fora, as atenções estão concentradas no primeiro discurso do novo presidente do Fed, Jerome Powell, na quarta-feira. Será a primeira aparição pública dele desde que assumiu o cargo, no início deste mês, substituindo Janet Yellen, o que se configura em uma boa oportunidade para detalhar o ritmo de alta dos juros nos EUA em 2018, dando uma nova direção aos investidores. Por enquanto, as apostas são de menos de três aumentos até dezembro, o que denota as chances pequenas de quatro altas neste ano.
Tal cenário, porém, levou grandes instituições, como Goldman Sachs e Morgan Stanley (NYSE:MS), a alertar quanto à possibilidade de avanço maior que esperado no rendimento dos títulos norte-americanos (Treasuries). A expectativa é de que o juro projetado pelo papel de 10 anos (T-note) alcance o patamar de 3%, o que tende a atrair recursos aos bônus, em detrimento de ações, moedas e commodities. Para esses players, é hora de sair do risco e comprar ativos mais atraentes, em termos de rendimento.
Entre os indicadores econômicos, ainda no exterior, também é destaque os dados do PIB dos EUA no último trimestre do ano passado, na quarta-feira. A leitura preliminar indicou alta de 2,6% da atividade norte-americana e a estimativa é de ligeira revisão para baixo no número. No mesmo dia, na Europa, sai a prévia da inflação ao consumidor em fevereiro.
Também merecem atenção os números sobre a renda pessoal e os gastos com consumo nos EUA em janeiro, na quinta-feira, além da leitura final deste mês do índice de confiança do consumidor norte-americano, na sexta-feira. Na China, serão conhecidos dados de atividade nos setores industrial e de serviços, a partir de amanhã.
Aqui, a agenda doméstica tem como destaque o desempenho da economia brasileira em 2017. Os números do Produto Interno Bruto (PIB) serão conhecidos na quinta-feira e a expectativa é de crescimento pelo quarto trimestre consecutivo, com o resultado acumulado do ano passado marcando a primeira expansão do país após dois anos de queda.
Antes, na quarta-feira, saem os primeiros números sobre o desemprego no Brasil neste ano (Pnad) e, depois, na sexta-feira, é a vez da inflação no atacado (IPP) no mês passado. Também merecem atenção as notas do Banco Central sobre o setor externo, as operações de crédito e a política fiscal, que serão divulgadas entre hoje e quarta-feira.
Ainda sem data definida, são esperados os dados do mês passado sobre a arrecadação federal e a geração de emprego formal. Hoje, o calendário interno traz a Pesquisa Focus (8h25). Já os dados da balança comercial ficaram para quinta-feira, quando sai o resultado consolidado de fevereiro. Amanhã, é a vez do IGP-M deste mês.
No front político, o presidente Michel Temer deve oficializar hoje a criação do Ministério de Segurança Pública. Trata-se da vigésima nona Pasta a compor a Esplanada em Brasília e que será criada por meio de uma Medida Provisória (MP), a ser publicada amanhã. Ainda não foi escolhido o ministro, mas já se sabe que estarão sob sua alçada a Polícia Federal, a Secretaria Nacional de Segurança e o Departamento Penitenciário Nacional.
Com a medida, Temer continua tentando conquistar cacife político, buscando ter um papel relevante na definição do candidato da situação a disputar as eleições presidenciais em outubro. Por mais que não seja ele mesmo a concorrer ao cargo, buscando uma reeleição, o presidente quer ter forças para enfrentar os tucanos, uma vez que a interpretação do Palácio do Planalto é de que o governado Geraldo Alckmin é pouco confiável.
Passada uma semana da intervenção, o governo avalia que a decisão de atuar no Rio de Janeiro ajudou a enterrar o risco de derrota na votação da reforma da Previdência. Porém, diante do "fogo amigo" vindo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, Temer pode tentar usar o apoio ao uso do Exército nas ruas para turbinar um candidato do governo - até mesmo o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que teria perdido prestígio, sem o apoio às novas regras na aposentadoria.
Falta, então, encontrar um nome com apelo popular para angariar votos e com um viés reformista para manter no poder aqueles que nele já estão, dando continuidade ao que vem sendo feito até aqui. A conferir.