A quarta-feira reserva eventos importantes na cena política e econômica brasileira. Mas o desfecho da votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer e a atualização da taxa básica de juros (Selic) são esperados apenas para o fim do dia, o que tende a arrastar a sessão local, deixando os mercados domésticos mais reféns do cenário externo.
O sinal negativo prevalece lá fora, com os investidores fazendo uma pausa no rali recente. Os índices futuros das bolsas de Nova York estão no vermelho, prejudicando a abertura da sessão na Europa. Já o dólar segue negociado no maior nível em três meses, o que enfraquece os metais básicos, o petróleo e as moedas correlacionadas às commodities. O rendimento (yield) do título norte-americano de 10 anos segue em 2,4%.
A agenda econômica do dia traz, no exterior, dados nos Estados Unidos sobre as encomendas de bens duráveis (10h30) e sobre as vendas de imóveis residenciais novos (12h), ambos referentes ao mês de setembro, além dos estoques semanais de petróleo bruto e derivados no país (12h30). Na Europa, merece atenção a leitura preliminar do Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido no terceiro trimestre deste ano.
Na região da moeda única, sai o índice de confiança do empresário da indústria e do comércio na zona do euro em outubro. Já no Brasil, saem o sentimento do consumidor neste mês (8h) e os números semanais do fluxo cambial (12h30). Mas o destaque na agenda econômica fica com a reunião do Banco Central em relação aos juros.
Com as apostas consolidadas de que o Comitê de Política Monetária (Copom) irá desacelerar o ritmo de queda da Selic para 0,75 ponto porcentual (pp), após sinalizar, ao final da reunião de setembro, que seria adequada uma redução moderada, as atenções se voltam, então, para o comunicado que acompanhará o anúncio da decisão, às 18h20.
No documento, os investidores vão buscar pistas em relação aos próximos passos, uma vez que o encerramento gradual do ciclo implica em uma nova queda, de 0,50 pp em dezembro, estendendo o processo de cortes em degraus para a primeira reunião de 2018. Com isso, um corte final de 0,25 pp em fevereiro do ano que vem é tida como uma opção plausível.
Mas a extensão do afrouxamento monetário para além de 2017 depende, em grande parte, dos esforços políticos para controlar as contas públicas e avançar com as reformas. Daí a relevância da votação na Câmara envolvendo Temer, que pode colocar em xeque a governabilidade do presidente até o fim do mandato.
Afinal, se o placar a favor do arquivamento da denúncia pelos crimes de organização criminosa e obstrução da Justiça for “gordo”, cresce a chance de mudanças na Previdência ainda neste ano. A expectativa oscila entre 260 e 270 votos da base aliada, praticamente repetindo o apoio de 263 deputados na primeira denúncia. Para encaminhar o processo à Corte Suprema (STF) são necessários 342 votos - o que é pouco provável.
Desse modo, resta saber o total de aliados que ainda sustentam a força política de Temer. Contudo, os deputados já estão de olho nas eleições de 2018 e podem mostrar-se pouco dispostos em avançar com uma medida tão impopular quanto novas regras para aposentadoria – tanto em termos de idade mínima quanto em tempo de contribuição.
Além do desgaste político cerca de um ano antes do pleito, os deputados sabem que o Palácio do Planalto tem poucos recursos a oferecer em troca de apoio. Diante da dificuldade de alcançar o rombo de R$ 159 bilhões deste ano, o governo não tem mais espaço no Orçamento para emendar parlamentares nem cargos atrativos para negociar.
De qualquer forma, o governo abriu a torneira em outubro e liberou R$ 687 milhões em verbas para deputados apenas nos 23 primeiros dias do mês. Os recursos já estavam previstos no Orçamento, cuja aplicação é decidida por deputados e senadores. Foi um salto considerável se comparado com setembro (R$ 273 milhões) e agosto (R$ 138 milhões).
Mas muitos deputados se queixam de que Temer ainda está devendo promessas da primeira denúncia, que não foram cumpridas. Assim, nem mesmo o fim da pressão sobre o governo vinda do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot deve abrir espaço para a tramitação das reformas. A sobrevida política reduz-se, então, ao fim do mandato em 2018.