O conturbado cenário global onde relações construídas com grande empenho nas últimas décadas estão sendo postas à risco, o que representa ameaça concreta a evolução da globalização, muito pelo contrário pode ser um marco do retrocesso, não permite que se imagine relações causa-efeito tradicionalmente esperadas de certas atitudes e decisões.
Assim, quando se vê o Presidente Trump, na sua típica truculência, afrontar o Presidente do FED, Jerome Powell, como que exigindo que reduza a taxa de juro americana tendo como foco fragilizar globalmente a moeda americana, revitalizando a economia americana e afastando os riscos presentes de uma recessão, parece ser uma resultante lógica, mas, nos tempos atuais, poderá, se consumado, não promover a resultante esperada visto que a opção da segurança predomina sobre a da rentabilidade, então mesmo com juro mais baixo o dólar persistirá como uma das escolhas de segurança e assim se manterá fortalecido.
Da mesma forma, o Brasil, país emergente que como todos assemelhados sofre forte aversão ao risco consequente da crise global que colocou os investidores em posicionamento defensivo, acostumado a ser receptor de fluxos consideráveis de recursos externos quando da ocorrência de redução de juro nos Estados Unidos e que ainda cultiva, em parte, esta visão, não deve ter esta perspectiva ilusória neste momento, visto que o país está absolutamente sem atratividade visto à fragilidade de sua atividade econômica não ensejar oportunidades ao capital estrangeiro e nem mesmo o mercado de juro, dado o viés de baixa da SELIC, ser atraente face à proximidade do juro interno com o externo que inviabiliza o “carry trade”.
O governo brasileiro, a despeito da forte oposição de “todas” as naturezas, vem buscando avançar com as reformas imprescindíveis, embora lhe falte uma boa articulação política o que provoca embates desgastantes com elevada perda de foco e consequentes retardamentos, mas as reformas em andamento visam reordenar o país na questão fiscal, extremamente relevante, e, até onde se percebe aliviar a carga de procedimentos burocráticos de ordem tributária, mas que pode ter forte oposição quando sinaliza reavivar práticas tributárias nefastas e que devem ter atravancar e retardar as decisões, e, que sabidamente não deverão gerar recursos para o governo programar os investimentos estruturais fundamentais.
Por outro lado, a fonte geradora dos recursos para o governo poderá advir das privatizações que vem sendo pré-anunciadas e divulgadas ontem sem muito conteúdo e sem nada de concreto se prestando unicamente para movimentar as especulações na Bovespa, mas inquestionavelmente deverá ensejar embates nacionalistas, ideológicos e corporativistas de grande intensidade e com alta capacidade de retardar as decisões. A desestatização é absolutamente necessária e pode se tornar efetiva no longo prazo, sendo, contudo relevante que a crise global tenha arrefecido a aversão ao risco e o Brasil demonstre-se melhor, pois sem a participação do capital estrangeiro será árdua a sua consolidação, visto que os investidores nacionais tem a tradição de participarem com os recursos generosamente concedidos pelo BNDES e isto pode estar mudando, o que pode causar afastamento do interesse.
O setor produtivo sofre do desalento do convívio com expressiva capacidade ociosa instalada e estoques, mantendo-se relutante enquanto não houver ações do governo para geração de emprego, renda e consumo. Por enquanto, é mero assistente da cena letárgica da nossa economia.
O governo, descapitalizado, tenta alguns artifícios como liberação de parte do saldo do FGTS para a população, que, todavia, detém elevado nível de inadimplência e os efeitos poderão ser pífios. Por outro lado, na área da construção civil pode estar encontrando um trajeto que pode gerar empregos, renda e consumo, mas que é positivo, mas insuficientes para dinamizar em termos efetivos a atividade econômica.
Enfim, o Brasil tem necessidades e anseios de curto prazo e perspectivas efetivas somente de longo prazo, e este lapso de tempo pode determinar forte estagnação desalentadora.
Não havendo motivação para o capital estrangeiro fluir para o país, nem mesmo especulativamente, e sendo o capital nacional incapaz de por si só sustentar alta da BOVESPA até porque esta é carente de melhora considerável da atividade econômica e perspectivas de resultados, nos parecem ilusórias projeções otimistas que rondam o mercado em relação ao mercado acionário brasileiro.
O mercado de juro está muito estreito (taxa de juro interna versus taxa de juro externa) tende cada vez mais a se tornar pouco atrativo.
Então, a perspectiva efetiva é que tudo tende a ficar onde está ou piorar um pouco pela falta de perspectivas imediatas.
A Bovespa, pela volatilidade, sinaliza provável predominância de operações de day trade, validando a máxima que “não vivemos de juros mas sim de giro”.
O dólar deverá se manter no entorno de R$ 4,00, dada à situação conjuntural, mas é preciso esperar se a intervenção do BC com oferta de moeda efetiva no mercado à vista deixa-o mais líquido e tire a pressão sobre o custo do cupom cambial mitigando a ocorrência da disfuncionalidade no mercado de câmbio, com pressão sobre a formação do preço no mercado à vista que quando isto ocorre tende a superar a taxa do mercado futuro, no qual o BC também está intervindo com operações de swaps cambiais reversos.
Não se sabe evidentemente, neste momento, onde está o ponto de equilíbrio do volume necessário na oferta pelo BC para evitar a disfuncionalidade, por isso não se podem projetar quais os efeitos efetivos na eventualidade da interrupção da intervenção do BC após o dia 29.
Ontem, o BC deu início a intervenção com a oferta de US$ 550,0 MM no mercado à vista, dos quais colocou US$ 200,00 MM, na nossa percepção o resultado não expressa “falta de tomadores ou desinteresse”, mas sim preço, pois embora o foco do BC seja irrigar a liquidez, os tomadores nutrem expectativa de que ocorra natural efeito no preço e assim procurar se resguardar de eventuais prejuízos. Assim é o mercado, assim é o “jogo”, o ajuste acontecerá normalmente.
O BC sinalizou ter sido pressionado pelo mercado pela exigência de prêmio para o leilão casado de dólares à vista versus swaps cambiais reversos, mas que não tem a intenção de concordar com esta pressão.
Em contraposição vendeu 4.000 contratos de swaps cambiais reversos, que é derivativo e não moeda efetiva, mas tem um efeito técnico de “compra” no mercado futuro.
Destaque-se que o preço do real revelou apreciação frente ao dólar, mas não se pode atribuir o fato totalmente ao leilão do BC, visto as moedas emergentes em linha apresentaram comportamento semelhante.
O BC deverá ficar atento e preciso, perder a relativa “timidez” demonstrada no anúncio prévio da intervenção em curso, afinal as reservas cambiais existem para, também e sempre que necessário, ser fonte para inibir desequilíbrios nos fluxos do mercado de câmbio, como ocorre no presente, que podem causar disfuncionalidades.
O mercado de câmbio é muito complexo e vai muito além do “comprar e/ou vender” como determinante primário da formação do seu preço.