A Rússia arrumou uma nova desculpa para explicar por que não está cumprindo sua cota de produção na Opep+: condensados. De acordo com a Reuters, os condensados podem ser definidos, de maneira geral, como “qualquer tipo de óleo que se condensa em forma de líquido depois de ser extraído de poços de alta pressão". Nessa condição de alta pressão, seu estado é gasoso; mas, após a liberação da pressão, seu estado se torna liquefeito.
Na quarta-feira, o ministro do petróleo da Rússia, Alexander Novak, defendeu que o condensado de gás deveria estar isento das cotas de produção acordadas no âmbito da Declaração de Cooperação da Opep+. Segundo Novak, a Rússia está colocando em operação diversos campos novos de gás no Ártico e, com isso, a produção de condensado de gás provavelmente aumentará, tornando cada vez mais difícil o cumprimento dos termos do acordo de produção.
Em outras palavras, o segundo maior produtor mundial de petróleo está querendo redefinir os termos do acordo de restrição de produção da Opep+.
Independente da questão dos condensados, a Rússia não vinha respeitando os cortes de produção em vigor. Apesar de ter se comprometido a reduzir sua produção em 230.000 barris por dia (bpd) no mês de outubro, com base no volume registrado no mesmo período do ano passado, que foi de 11,42 milhões de bpd, a Rússia acabou extraindo 11,56 milhões de bpd.
Será que os condensados de gás deveriam estar isentos das cotas de produção da Opep+ e, em caso positivo, qual seria a reação dos outros produtores?
Identificando condensados: escala em queda, mudança de regras
Em 2014, a Agência de Informações Energéticas dos EUA (EIA, na sigla em inglês) restringiu a definição de condensado, pois o fraturamento de poços estava gerando um volume muito grande de substâncias. Nos EUA, os órgãos reguladores diferenciam o condensado de acordo com a forma como o material é produzido, ou seja, se ele é processado na boca do poço ou em plantas de processamento de gás natural.
De maneira geral, a indústria petrolífera define o condensado segundo sua gravidade específica (escala API), que varia entre 50 e 120 graus, embora muitos classifiquem o condensado de forma muito menos restritiva, como hidrocarboneto líquido com um API de 45 graus ou mais. Em 1989, a Opep decidiu identificar o condensado como um hidrocarboneto líquido com um API de 50 graus ou mais. Os condensados com mais de 50 graus estão isentos dos cortes da Opep+.
A Rússia não especificou a gravidade do condensado de gás proveniente dos seus novos campos de gás natural liquefeito (GNL), o que levanta a suspeita de que possa ter menos de 50 graus. Se a Opep+ decidir eliminar a distinção pela escala API por completo, ou mesmo adotar uma definição de condensados menos restritiva – como uma classificação de hidrocarbonetos líquidos com um API de 45 ou mais –, a Rússia não seria o único país a se beneficiar.
Mais honestidade, mas também mais óleo
A Nigéria iniciou recentemente a produção em um novo campo petrolífero e tem feito extrações muito acima da sua cota de 1,77 milhões de bpd. De fato, Emmanuel Kachikwu, ministro do petróleo do país, declarou que esse óleo novo deve ser classificado como condensado. Trata-se de um problema bem conhecido para a Nigéria que, desde pelo menos 2017, vem dizendo que grande parte da sua produção petrolífera deveria ser considerada como condensado.
A definição de condensado também foi fonte de atrito entre a Opep e o Catar. Por ser um grande produtor de gás natural, o Catar é responsável por atender grande parte da alta demanda de condensado na Ásia, mas acreditava que suas exportações do produto eram limitadas pelas regras da Opep. Depois de sair do cartel em dezembro passado, as exportações de condensados do Catar aumentaram, principalmente para a China.
É pouco provável que a Rússia consiga redefinir o significado de “condensado” nas reuniões da Opep e Opep+ em dezembro. A controvérsia em torno da questão é muito grande para ser resolvida em um prazo tão curto até a reunião, caso o grupo decida adotar uma definição menos restrita da substância, já que isso causaria uma inundação repentina do produto no mercado.
Se os condensados com menos de 50 graus API não ficassem mais sujeitos às cotas, a Rússia não é a única produtora que colocaria mais petróleo no mercado. Considerando que os preços do petróleo estão estagnados no patamar inferior de US$ 60, o movimento faria com que a Opep e a Opep+ fossem mais honestas em relação à que tipos de petróleo estão produzindo e exportando, o que também pressionaria para baixo a cotação da commodity.