Os mercados de capitais dos países são conectados a peculiaridades econômicas globais, alguns mais do que outros.
Com os holofotes midiáticos apontados para as incertezas na Turquia, diversas economias, principalmente as de nações emergentes, são abaladas por um certo “risco contagioso” de volatilidade, que advém da situação.
É difícil encontrar, no presente momento, um artigo sequer que tenha comentários positivos acerca do cenário turco. A história contada nos diversos meios é em sua essência, algo implacavelmente negativo.
A verdade é que situação vigente na Turquia, se assemelha menos a uma crise financeira e mais a uma crise de confiança, voltada para incertezas civis e de adversidades políticas.
Mas afinal, o que está acontecendo na Turquia?
De maneira resumida, acredite se quiser, a raiz do problema é que o país vinha crescendo num ritmo muito acelerado, para conforto do mercado financeiro. A economia turca cresceu em torno de 7% no ano passado, uma dos maiores acréscimos do planeta. Contudo, essa evolução está decaindo.
Erdogan, o presidente atual, tem se recusado a aceitar a eventual queda no crescimento e continua fomentando algo insustentável. Existe uma falta de medidas direcionadas para o controle da inflação crescente e das dívidas externas.
As dívidas, que ajudam a fomentar o crescimento, podem agir como uma faca de dois gumes. Num momento de inflação exacerbada e da moeda local se desvalorizando perante o dólar, altos níveis de endividamento se tornam mais difíceis de lidar.
O aumento do débito turco vem acontecendo desde 2010, chegando em patamares bastante elevados em 2018, como pode ser visto abaixo
Há alguns anos, as taxas de juros sobre o dólar estavam baixas e era bem atrativo pegar financiamentos com base em dólar. Diversas companhias governamentais não pensam no longo prazo ao se alavancarem, ou simplesmente pensam no menor custo atual, podendo se tornar algo caro no futuro.
Com a valorização do dólar, propiciada pelo crescimento da economia nos Estados Unidos, adicionada ao aumento das taxas de juros americanas, você tem a receita para um problema, caso possua altas dívidas. O crescimento do juro americano pode ser observado:
Portanto, se atualmente você pode emprestar dinheiro para o governo dos Estados Unidos por 3%, você pode esperar taxas muito maiores para países emergentes como a Turquia.
Outra vulnerabilidade é o índice empréstimos/depósitos bancários, que se encontram atualmente num intervalo de 110% a 130%, longe do máximo confortável, que seria o 100%.
Com a atratividade para investir na economia americana contribuindo para o redirecionamento de fluxos de caixa, antes destinados a países emergentes e agora para a economia mais desenvolvida do planeta, surge uma certa dificuldade para mercados menores.
Porém, dólar alto, altas taxas de juros e custos elevados de insumos, provenientes de tarifas elevadas, não são algo benéfico no médio-longo prazo para a economia americana.
Eventualmente as políticas monetárias nos Estados Unidos irão se estabilizar e haverá um alívio para mercados emergentes.
Com o pessimismo pairando sobre a Turquia, diversas empresas que até pouco tempo atrás estavam entregando resultados excelentes, agora são negociadas em sua mínima histórica.
Inclusive, empresas que tem receita em dólar e tem operações saudáveis foram depreciadas em preço, em virtude da incerteza e da sensação generalizada de risco.
Contudo, sabemos que o mercado é cíclico. Não é possível saber o resultado proveniente da crise turca.
O que sabemos, analisando a história, é que em momentos de pessimismo exacerbado e de domínio das emoções perante a razão no mercado de capitais, surgem oportunidades de investimento onde se compra “1 dólar por 50 cents”.
Basta olhar os índices extremamente descontados de grandes empresas na Turquia, como o PL (preço/lucro) e o preço/valor patrimonial, por exemplo.
Não é possível saber, antes de um estudo aprofundado, quais companhias tendem a sair ilesas da crise. Porém, é fato que algumas vão, e no momento, não está precificado um final feliz.