Publicado originalmente em inglês em 15/12/2020
Se já houve um momento de incerteza para os investidores do ouro, muito provavelmente é o que estamos vivendo agora. O mais paradoxal de tudo é que o momento atual também está repleto de oportunidades para o metal subir, apesar dos obstáculos pelo caminho.
Tanto o mercado futuro quanto o à vista do ouro seguiam em um canal estreito de alta no pregão desta terça-feira na Ásia, depois de derraparem na sessão anterior por causa de notícias mistas sobre as campanhas de vacinação contra a covid-19, os anúncios de bloqueios econômicos e a falta de compromisso político para um pacote de auxílio fiscal nos EUA antes da reunião mensal do Federal Reserve.
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Desde que despencou do nível de US$ 1.900 por onça no dia 5 de novembro, o ouro futuro ficou preso em uma consolidação entre US$ 1.830-1.850.
Após tocar a mínima de cinco meses a US$ 1.767,20 três semanas antes, a retomada até cerca de US$ 1.880, em 8 de dezembro, deu alguma força técnica aos futuros do ouro. Mas sua incapacidade dar continuidade à força inicial da semana passada também trouxe novos riscos para o metal amarelo.
Os investidores do ouro estavam tentando novamente fazer o metal atingir níveis mais altos nesta semana, mas deram de cara com a parede da resistência técnica a US$ 1.845.
Os fundamentos no ouro estão mais complexos do que nunca. Os republicanos no Senado e os democratas na Câmara dos EUA não conseguem chegar a um acordo sobre os detalhes dos planos de estímulo de cerca de US$ 900 bilhões, uma saga que já fez os preços do ouro cair 15% desde meados do ano. A chegada da vacina da Pfizer (NYSE:PFE) contra a covid-19 – um feito histórico –, combinada com novos lockdowns, criou um ambiente extremamente confuso para os investidores na maioria dos mercados.
Chance de disparada
Mesmo assim, o ouro pode tentar disparar novamente antes da reunião do Fed nesta semana, já que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do banco central pode aproveitar a única oportunidade do ano para ajustar a política monetária.
Não está previsto um corte de juros, já que a taxa referencial do Fed já está ancorada perto de zero.
Mas, entre as possibilidades do banco central, está a expansão das compras de títulos em US$ 120 bilhões por mês através do afrouxamento quantitativo, seja ajustando o vencimento dessas compras ou fornecendo diretrizes "baseadas em resultados” que a instituição precisará ver antes de fazer um aperto monetário dos estímulos historicamente elevados.
Fed pode gerar mais movimentação
O jogo do Fed, portanto, estará nas nuances e entrelinhas da política monetária, e não em medidas ousadas.
Diante das tentativas de dividir o pacote de alívio que está sob discussão agora no Congresso, pode ser que ocorram avanços concretos desta vez e um acordo antes do fim do pregão de sexta-feira.
As tratativas do grupo bipartidário já se estendem por duas semanas e podem abrir espaço para um pacote de US$ 748 bilhões, que inclui novos benefícios a desempregados e pequenas empresas, além de outros programas que receberam amplo apoio de ambos os partidos.
Uma lei de estímulo pode finalmente ser aprovada
A segunda lei contém dois artigos controversos entre os parlamentares: proteções a empresas contra obrigações legais e quase US$ 160 bilhões em auxílio a governos locais e estaduais. A expectativa é que ambos sejam excluídos do acordo final para garantir a aprovação dos artigos mais populares. Essa segunda lei pode acaba ficando de fora do acordo final, se não houver um consenso entre os parlamentares, em meio à ampla oposição dos democratas para aprovar a proteção contra obrigações legais.
Portanto, para onde o ouro pode ir em caso de um minirrali?
Bem, abaixo de US$ 1.900, o metal brilhante pode testar o pico de 8 de dezembro a US$ 1.879,80. Acima desse patamar, o metal terá pela frente a resistência de US$ 1.898 definida em 16 de dezembro.
Em seguida, será preciso romper e se firmar acima da consolidação de US$ 1.820-1.850, de acordo com Jeffrey Halley, analista da OANDA. O analista complementou:
“Os investidores na Ásia parecem estar se protegendo contra a perda de força nas ações, o Fomc e a falta de avanço nas negociações de estímulo nos EUA. O resultado é que o ouro continua consolidado entre US$ 1820 e US$ 1850 por onça”.
“A expectativa é que o Fomc continue com os estímulos, possivelmente não tanto quanto o mercado esperava, em vista da falta de progresso nas negociações para o estímulo fiscal. Qualquer movimento do Fomc para conter a alta dos rendimentos dos títulos mais longos do tesouro americano deve ser positivo para os preços do ouro”.
Minirrali pode fazer o ouro superar US$ 1.900
Se o ouro tiver mais espaço para subir, pode ser que supere US$ 1.900, de acordo com os aspectos técnicos do Investing.com.
O grafista Sunil Kumar Dixit, da SK Dixit Charting, concorda com esse cenário e explica:
“O ouro se segurou no suporte de US$ 1.822 e repicou para US$ 1.845. Para subir mais, é preciso ultrapassar a faixa de US$ 1.852-1.854, e o nível seguinte é o topo duplo a US$ 1.880 nos gráficos de quatro horas”.
“O otimismo pode fazer o metal atingir US$ 1.898-1.907. O Indicador Estocástico de Força Relativa dá suporte ao movimento de alta atual, que está condicionado à manutenção do suporte a US$ 1.822. Caso contrário, o metal pode ficar exposto a uma queda até a zona de US$ 1.800-1.790”.
O Indicador Técnico Diário do Investing.com indica neutralidade no ouro, com a resistência de nível três de Fibonacci a US$ 1.842,35, depois a US$ 1.848.39 e US$ 1.858,17.
Se a tendência mudar para baixa, o ouro provavelmente encontrará o primeiro suporte de Fibonacci a US$ 1.822,79, depois a US$ 1.816,97, e por fim a US$ 1.806,97.
O ponto de pivô entre essas faixas é US$ 1.832,57.
Como em todas as projeções, interprete as visões apresentadas com base nos fundamentos e opere com moderação – sempre que possível.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.