O mercado de açúcar em NY fechou a semana com baixa generalizada, mas com maior pressão nos meses com vencimento mais longo. O julho bateu a mínima de 16,52 centavos de dólar por libra-peso, o valor mais baixo desde julho de 2010. Os demais vencimentos tiveram quedas entre 18 e 40 pontos (de 4 a 8,80 dólares por tonelada).
A desvalorização do real em relação ao dólar muda a perspectiva de suporte do preço do açúcar no mercado internacional no exato momento da entrada da safra de cana do Centro Sul. Isto é, dólar valorizado impulsiona as fixações dos contratos comerciais de vendas contra NY em função de uma liquidação maior em reais para as usinas, cujos orçamentos são feitos nessa moeda. Será que é isso mesmo?
Pois bem, o real atingiu seu pico essa semana chegando a bater 2,1400 – se pegarmos a mínima negociada no açúcar em NY nesta sexta-feira (16,52) e convertê-la em centavos de real por libra-peso chegamos em 35,35, basicamente a mesma liquidação que dava no início do mês com o julho negociando a 17,64 centavos de dólar por libra-peso e o dólar a 2,0050. Então, por que será que o mercado não caiu mais?
No menor nível recentemente negociado (34,1425 centavos de real por libra-peso), com uma taxa de câmbio do dólar a 2,1400, NY deveria ter negociado até 15,95 e fechou a 16,57. Será que a recompra por parte dos fundos de 11.500 lotes impediu o mercado de cair mais? Por outro lado, dólar mais forte significa que as importações de petróleo ficarão mais caras em reais piorando o rombo de caixa que a Petrobrás sofre por colocar na bomba um preço de gasolina imposto pelo governo inferior àquele que importa. Para minimizar essa situação, a estatal do petróleo pode aumentar ou antecipar sua compra de etanol.
Será que ainda tem muita fixação a ser feita contra o julho? O modelo que usamos diz que não. Vale a pena lembrar o seguinte: com o julho saindo da pedra este mês de junho, e imaginando que apenas os açúcares para embarque abril/maio/junho/julho estejam fixados, ou seja, admitindo que a somatória de todos os demais meses seja zero, nos últimos 5 anos, 1/3 das exportações brasileiras se concentraram nesses primeiros 4 meses. 33,33% pelo menos fixado. Se admitirmos que apenas 20% do remanescente esteja fixado, então o total fixado passaria a pelo menos 46,67%.
O número de contratos em aberto no açúcar em NY atingiu o volume mais alto dos últimos quase 5 anos (junho de 2008), chegando a uma posição de futuros de 905,960 contratos. A notícia é positiva pois contratos com boa liquidez permitem a criação de instrumentos derivativos de balcão que propiciam alternativas de hedge para todos os seus participantes. Depois da crise de 2008, o açúcar cuja posição em aberto batera o recorde de 1,113,000 contratos chegou a minguados 465,000 contratos no final de setembro de 2011. Muito se deve, evidentemente, ao dinheiro novo especulativo que veio para o açúcar com os fundos detendo uma posição líquida vendida de 112,000 contratos em aberto.
O acesso ao porto de Santos continua um caos. Aliás como quase toda a infraestrutura carente do país que só funciona bem na cabeça do governo. No mundo cor-de-rosa em que vivem Dilma e sua trupe, tudo funciona perfeitamente. Mas, voltando ao assunto, na semana passada a fila de caminhões na estrada que liga São Paulo ao porto de Santos alcançava incríveis 50 quilômetros. O que será que vai acontecer quando os embarques de açúcar começaram a fazer parte dessa triste jornada? Existem mais de 1 milhão de toneladas de açúcar nos terminais a serem embarcadas em Santos nos próximos dias.
A posição em aberto das puts de preço de exercício entre 17 e 16 centavos de dólar por libra-peso para julho (cujo vencimento é daqui a duas semanas) é de 60.000 contratos. Isso pode trazer alguma turbulência caso o mercado faça novas mínimas.
O açúcar assumiu a liderança da commodity agrícola cujo preço teve a maior queda acumulada do ano: 15,1%. Seguem o café com 11,7%, o trigo com 9,3% e o milho com 5,2%. Na outra ponta está o suco de laranja que subiu mais de 27% este ano seguido da soja com alta de apenas 7%.
Um conhecido executivo do mercado financeiro, gestor de uma enorme carteira de financiamentos ao setor, foi visto na semana que passou no Coffee Dinner, evento que ocorreu em São Paulo na terça-feira passada. Será que a situação está tão preta no mercado de açúcar que o respeitável senhor resolveu visitar outras paragens?
Uma boa semana para todos