Vamos todos torcer.
Alguns torcerão discretamente, outros como loucos. Os que mais torcem são aqueles rabugentos, que querem que o Brasil perca para aprender uma lição, ou simplesmente se negam a assistir ao jogo, alegando desinteresse.
Seja qual for o seu caso, a verdade, a priori, é que se a Bélgica ganhar não será uma surpresa – desde que não seja de 7 a 1.
Eu quero acreditar que seguiremos em frente, para pegar a Inglaterra na final. Acho que é o mais provável neste momento, embora o mais provável valha algo entre 5 e 10 por cento.
Já pensando ansiosamente nos ingleses – nesta noite sonhei com Churchill.
Aquele Churchill em guerra, logo antes de ser informado que a força aérea alemã estava prestes a iniciar uma sequência massiva de bombardeios sobre Londres.
Além das óbvias fatalidades, o primeiro-ministro britânico estava apavorado com os efeitos traumáticos que as bombas causariam na população.
Para ele, esses chamados “efeitos de segunda ordem” seriam várias vezes mais nocivos que os efeitos de primeira ordem dos danos físicos.
Não preciso dizer que Churchill era um sujeito inteligentíssimo. Poucas pessoas sequer consideram a existência de efeitos de segunda ordem na vida.
Mas nem mesmo a perspicácia do ministro seria capaz de adiantar uma outra camada de efeitos, de terceira ordem.
À medida que as bombas alemãs caíam sobre Londres, causavam três tipos de impacto.
O primeiro, e mais objetivo, era o das mortes.
O segundo dizia respeito às pessoas atingidas muito perto do epicentro dos danos. Elas não morriam, mas sofriam gravíssimos traumas físicos e psicológicos. Representavam, assim, as preocupações fundadas de Winston Churchill.
Porém, mesmo que somássemos os tristes casos do primeiro e do segundo grupo, seriam minoria perto de um terceiro grupo determinante, dos londrinos que sobreviviam aos bombardeios praticamente ilesos.
Essas pessoas não estavam felizes com a situação, obviamente. Mas se sentiam muito mais confiantes e esperançosas depois de terem sobrevivido a uma enorme ameaça.
Desde que comecei a trabalhar no mercado, em 2005, conheci os mesmos três tipos de investidores em face aos momentos de guerra financeira.
Há aqueles que quebram.
Há aqueles que ficam permanentemente traumatizados, e nunca mais voltam a investir em ações.
E há aqueles que aguentam o fardo de tomar sete gols num drawdown, para então virar o jogo durante os próximos sete anos de bull market.
Em Londres, esses terceiros eram maioria, neutralizando o impacto dos ataques alemães.
Na Bolsa, eles são minoria. São alguns poucos e bravos investidores que aumentam a confiança enquanto sobrevivem a um canal de baixa, carregando pacientemente as Melhores Ações até a guerra acabar.
Esses últimos não precisam de sorte.