Maurillo Marcondes Lários Naves - Financial Advisor
A safra da soja vai ganhando cores com suas flores, e iniciando a formação de vagem e grãos. E os agricultores já começam a preocupar com a segunda safra. Compras de insumos, travamento de preços e previsões climáticas. Para tanto, além dos tradicionais pacotes de troca com as revendas e tradings, no qual se faz uma venda antecipada da futura produção, existem mais duas possibilidades de hedge, venda de contratos futuros, e operações com opções.
Nos contratos futuros, basicamente, se vende contratos para recomprá-los, depois, na Bolsa. O resultado da operação, na Bolsa, será o oposto da oscilação dos preços no mercado físico. O ganho de um mercado equivale a perda no outro, garantindo o preço desejado.
Nas operações com opções pode-se comprar um seguro de preço da mercadoria, através do pagamento de um prêmio. As operações na Bolsa se somam a comercialização no físico. A Bolsa "indeniza" a perda de preço do agricultor, caso o preço caia. Essa operação é feita comprando-se uma PUT, que é o direito de vender algo.
A fim de reduzir os custos da operação, pode-se estruturar operações com outras opções, sem perder a essência da operação. Se estabelece um seguro parcial contra queda de preços, haja vista que existem limites para essa queda, estipulados por análises gráficas e preços históricos. Este seguro parcial é feito comprando-se a PUT no preço desejado (strike) e vendendo outra PUT, de strike inferior. Paga-se pela PUT que comprou e recebe-se o prêmio da PUT que vendeu. A diferença entre os prêmios é o custo do seguro que protege contra a queda parcial. O nome popular desta operação é "Trava de baixa".
Uma segunda operação ainda pode ser feita, barateando ainda mais a operação, que é vender uma outra opção, agora, uma CALL, de strike mais elevado do que o preço desejado, a fim de receber o prêmio, e subtraí-lo do custo da "Trava de baixa". O nome dessa operação estruturada é "Fence" ou "Put spread call". Essas operações podem ser feitas para qualquer título, ações, dólar, índices e commodities... Segue exemplo prático para o milho negociado na BMF, base de preços São Paulo, contrato Setembro 2017, para 10 contratos, ou 4500 sacas:
Tal operação, efetuada no dia 14/12/2017, visando proteção contra queda de preços do milho safrinha, foi feita utilizando-se i) uma compra de PUT no strike R$33,50, a qual garante um "ressarcimento" em caso de queda abaixo deste valor, ii) venda de PUT no strike R$30,00, a qual limita a proteção contra a queda, por não se acreditar em quedas além deste valor.
A compra da PUT "seca", teria um custo de R$2,64/saca, e garante proteção do strike R$33,50 até preço zero. Efetuando-se a trava, o custo do seguro reduz para R$1,60/saco, e protege o agricultor contra queda de R$33,50 a R$30,00. Se, eventualmente, cair mais, ou reajusta-se os valores do seguro (melhor hipótese), ou aceita-se uma pequena perda: o que cair abaixo disso.
Com a venda da CALL a R$37,00, a operação se reduz para, apenas, R$0,37/saca!
Assim, como mostra o gráfico, tudo o que o milho cair, no físico, abaixo do valor segurado, o agricultor é ressarcido, pela Bolsa, até o limite de R$33,00. Se houver alta nos preços, até R$37,00, o agricultor ganha toda a alta no mercado físico, e nada acontece na Bolsa. Caso a alta seja muito expressiva, tudo o que subir a partir deste ponto, a alta no físico é limitado pela Bolsa. Em nenhuma hipótese, haverá prejuízo na alta dos preços. Em casos raros de grandes altas de preços, o agricultor pode desfazer-se dessa CALL (melhor hipótese) ou aceitar a limitação do ganho. Ainda assim, há ganhos na alta.
Comparando com a venda direta para trading; nas operações com opções, "Put seca", "Trava de baixa" e Fence" o agricultor consegue acompanhar a alta dos preços, caso ocorram. Com a venda antecipada para as trading, apenas entrega-se os grãos pelo preço combinado, sem ganhos na alta dos preços. Em todas operações citadas, protege-se contra a queda de preços, garantindo uma receita mínima da lavoura.
As opções são excelentes ferramentas, na medida em que protegem contra quedas, possibilitando ganhos na alta, e sobretudo, sem comprometer a produção, pois não há penhor de safra, ou hipoteca de terras como garantia. Faço um desafio; Em 100 sacas de milho de produtividade por ha, pelo custo mencionado das opções, a proteção de preços é mais cara ou mais barata do que um trato cultural preventivo na lavoura; aplicação extra de fungicida, um tratamento de semente melhor, ou lagarticida fisiológico?