"Este artigo foi originalmente publicado em inglês no dia 16/05/2016"
As interrupções no abastecimento terão efeito real sobre o excesso de oferta mundial?
A maior pergunta desta semana é se as interrupções no abastecimento surtirão impacto sobre o excesso de oferta mundial, sempre presente, no mercado de petróleo.
As respostas, em poucas palavras: as interrupções na Nigéria, Canadá e Líbia são provavelmente transitórias, ao passo que a produção venezuelana representa um problema em longo prazo. A produção nos EUA continuará caindo lentamente, mesmo se os preços do petróleo chegarem a US$ 50. Por outro lado, a produção iraniana continuará aumentando lentamente e a Arábia Saudita aumentará a produção rapidamente. Até onde o preço do petróleo pode chegar? Seu palpite é tão bom quanto o meu.
Nigéria
A Nigerian National Petroleum Company (link em inglês) produz aproximadamente 2,5 milhões de barris por dia, tornando-se a maior produtora de petróleo da África. No entanto, os recentes atos de terrorismo e sabotagem reduziram esse número para 1,65 mbpd. A Shell (NYSE:RDSa) e a Chevron (NYSE:CVX) suspenderam a produção do petróleo em áreas afetadas por essa atividade.
Revoltas (link em inglês) contra a produção de petróleo na Nigéria não são um fenômeno novo. Na verdade, o ex-presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, instituiu em 2009 um programa de remuneração mensal de terroristas na região do Delta do Níger, visando a evitar ataques às instalações petrolíferas. Isso parecia ter controlado a violência na região. O novo presidente da Nigéria, Muhammadu Buhair, recentemente reduziu o custeio do programa em 70% e gostaria de cancelá-lo por completo dentro de dois anos.
Os Vingadores do Delta do Níger (link em inglês), que cometeram o ataque mais recente a uma plataforma de petróleo offshore, dizem lutar pela independência do Delta do Níger e também exigem uma fatia maior dos lucros do petróleo. Se a Nigéria conseguir reprimir esta onda de ataques – o que parece estar fazendo (link em inglês) em uma série recente de prisões – e aplacar os separatistas militantes, o país deve ser capaz de recuperar a produção no curto prazo. O fato de que as questões são políticas e não estruturais sugere que o investimento e a produção de petróleo não devem sofrer por muito tempo.
Na verdade, a Exxon (NYSE:XOM) acabou de anunciar (link em inglês) que planeja aumentar a produção na Nigéria nesta semana.
Canadá
Os incêndios florestais na região areias betuminosas de Alberta causaram uma queda de 1 mbpd na produção de petróleo canadense nas últimas duas semanas. A EIA presume que alguns atrasos e interrupções durante todo o verão (link em inglês) podem acontecer, mas que a produção não se recupere em virtude da queda. No entanto, outras fontes dizem que a produção canadense vai se recuperar muito mais cedo, provavelmente até o final de maio (link em inglês). Este é um motivo (link em inglês) para duvidar da utilidade da recente projeção do Goldman Sachs, que cita interrupções do abastecimento no Canadá como um fator significativo na resolução do excesso de oferta mundial de petróleo.
Líbia
A produção da Líbia deve ser de aproximadamente 1,5 milhão de barris por dia, mas os ataques de militantes islâmicos e confrontos entre facções violentas em todo o país têm causado interrupções significativas (na escala de 75%) na oferta. Particularmente, um desacordo político cresceu e provocou um embargo de curto prazo por parte da ONU, quando uma facção no leste da Líbia tentou exportar ilegalmente petróleo fora da Libyan National Oil Corporation. A ONU bloqueou o petróleo oriundo do porto do grupo oriental, resultando em interrupções do abastecimento ao longo das últimas duas semanas. No entanto, o bloqueio já foi parcialmente suspendido e as duas facções parecem estar chegando (link em inglês) a um termo comum. Apenas 150.000 bpd permanecem embargados. (Uma quantidade ínfima, em comparação com os quase 100 milhões de barris por dia consumidos mundialmente). De acordo com a AIE (link em inglês), uma vez que as portas restantes forem reabertas, a produção da Líbia poderá aumentar imediatamente para 700.000 barris por dia.
Venezuela
Em 2015, a Venezuela produziu aproximadamente 2,78 mbpd de petróleo. Os problemas econômicos do país, incluindo interrupções significativas na produção de energia elétrica (a Venezuela depende muito da energia hidrelétrica para a produção interna e não do petróleo) têm reduzido a produção de petróleo (link em inglês) em pelo menos 188.000 bpd. A terrível situação econômica na Venezuela promete agravar e prolongar suas falhas de produção. Não há como adivinhar até onde os níveis de produção na Venezuela podem chegar nos próximos meses devido à extrema austeridade e turbulência econômica e política.
De todas as interrupções de abastecimento aqui abordadas, a Venezuela terá o impacto mais significativo sobre o mercado, porque os problemas que sua produção de petróleo enfrenta são estruturais e estão fermentando há muitos anos. Além de garantir um curativo temporário com o programa de "petróleo como pagamento de empréstimos" (link em inglês) entre a China de cerca de US$ 50 bilhões, o governo de Maduro não parece ter nenhum plano para aliviar a situação. Neste momento, as projeções indicam que a Venezuela precisaria manter os preços em US$ 80 por barril para obter a produção de volta aos níveis de 2015. Até que a Venezuela melhore sua capacidade de produção, não será possível alcançar a receita necessária; e o país não conseguirá melhorar sua capacidade de produção até que encontre novas receitas.
Irã
A produção de petróleo iraniano parece estar em 4 milhões de bpd, mas problemas políticos (link em inglês) estão impedindo o lançamento de novos termos em seus contratos de petróleo estrangeiros. Desde o Ano Novo, o Irã aumentou os seus contratos de fornecimento de petróleo, assinando novos com a ENI (MI:ENI) (NYSE:E), Total (NYSE:TOT) e a Coreia do Sul. O Irã espera que esses contratos resultem no investimento da antiga indústria de petróleo do Irã. Até agora, apenas os chineses (link em inglês) estão dispostos a investir no desenvolvimento do petróleo iraniano nos termos de contrato pré-sanção. No entanto, a notícia mais recente é que os contratos de petróleo do Irã para o exterior ficarão prontos em junho...ou talvez em julho.
Arábia Saudita
Apesar das recentes mudanças no Ministério do Petróleo saudita, restam poucas dúvidas sobre as intenções do maior produtor de petróleo do mundo. A produção de petróleo (link em inglês) na Arábia Saudita deve aumentar. A produção na Arábia Saudita geralmente aumenta durante o verão para acomodar um aumento de demanda de eletricidade no mercado interno, mas essa expansão planejada é mais duradoura. Citando a crescente demanda da Índia e da China, Aramco está planejando aumentar a capacidade (link em inglês) de seu campo Shaybah em breve e de seu campo Khurais em 2018. Só o campo de Shaybah produzirá um adicional de 1 mbpd para o mercado.
Estados Unidos
A produção de petróleo norte-americana continua caindo lentamente, uma vez mais empresas de xisto declaram falência. Desde 2016 (link em inglês), aproximadamente 69 produtores de petróleo e gás na América do Norte entraram com pedido de proteção contra falência. Apesar do recente aumento do preço do petróleo, os problemas financeiros continuam. Catorze empresas de petróleo já declararam falência desde abril, algumas com dívidas na casa dos bilhões de dólares. Mesmo com os preços do petróleo atinjam US$ 50 (um preço que pode não ser sustentado), mais empresas devem entrar com pedido, resultando em novas reduções na produção e no processo lento e contínuo da consolidação.