Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) -A distribuição de combustíveis no Brasil vive momento crítico, diante das interdições por manifestantes em rodovias, e já foi registrada falta pontual de produtos em alguns postos pelo país, como em Santa Catarina, onde a situação é mais preocupante, disseram representantes do setor.
As distribuidoras temem uma piora do cenário com uma crise de desabastecimento, caso seja mantido o atual cenário de manifestações em diversas regiões do país, disse à Reuters a diretora de Downstream do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), Valéria Lima.
A situação atual é agravada por uma falta de coordenação do governo federal para garantir a entrega de produtos aos postos, segundo a diretora do IBP, que representa as maiores distribuidoras de combustíveis do país, como Vibra, Raízen e Ipiranga.
Os principais pontos de atenção quanto ao risco de desabastecimento de combustíveis no momento são Santa Catarina e Paraná, com grandes reflexos em São Paulo, disse Lima.
"É uma situação crítica o que estamos vivendo", afirmou Lima, em conversa por videoconferência.
As manifestações são realizadas por grupos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) insatisfeitos com a derrota nas urnas no domingo.
Bloqueios e interdições atingiam 20 Estados e Distrito Federal na manhã desta terça-feira, apesar de decisões judiciais determinando o desbloqueio e diante da demora de Bolsonaro de comentar o assunto.
Lima pontuou que o IBP tem conseguido acessar os órgãos federais para tratar sobre o tema, mas que não houve uma sala de crise montada, como foi feito nas outras vezes em que o país enfrentou manifestações similares em estradas.
"Sem ação coordenada, fica muito difícil atacar isso... Falta realmente um diálogo articulado com governo federal", pontuou.
Lima explicou que, diante da situação, o IBP tem buscado exercer um papel de coordenação, tentando atuar na medida do possível em contato para além de suas distribuidoras, em conversas com outros agentes de mercado e segmentos que dependem dos combustíveis.
PROBLEMAS PONTUAIS
Em Santa Catarina, os bloqueios nas rodovias atingiram as bases de distribuição de Itajaí, Guaramirim e Biguaçu, prejudicando o abastecimento em várias cidades do Estado, principalmente Joinville, Blumenau, Itajaí, entre outras, segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Santa Catarina, Luiz Antonio Amin.
Os bloqueios continuam e os postos estão sem gasolina e etanol, mas ainda há estoques de diesel, acrescentou.
Além de Santa Catarina, houve falta pontual de combustíveis em alguns postos do Paraná, Minas Gerais e Brasília, segundo representantes do setor.
O presidente da Fecombustíveis, James Thorp Neto, frisou, no entanto, que até o momento houve apenas relatos de sindicatos de que alguns postos estão com mais dificuldades, mas que não há uma situação de desabastecimento no país.
Neto frisou ainda que é preciso cautela nestes momentos, já que em situações anteriores o temor de falta de combustíveis acabou levando a uma corrida aos postos, o que provocou o consumo de estoques e a falta de produtos.
"Não tem relatos de cidades desabastecidas, tem relatos de caos pontuais, de postos com estoques mais curtos", afirmou o presidente da Fecombustíveis, que representa os interesses de cerca de 40 mil postos revendedores de combustíveis que atuam em todo o território nacional.
A reguladora ANP disse em nota que está mantendo contato permanente com as distribuidoras, a fim de monitorar a movimentação das cargas de modo a prevenir que haja desabastecimento.
(Por Marta Nogueira; edição de Roberto Samora)