Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou, nesta segunda-feira, que está "quase certo" um acordo para comprar óleo diesel da Rússia e que as primeiras cargas podem chegar ao Brasil em 60 dias, em mais um movimento para tentar reduzir o preço dos combustíveis no país.
"Agora está quase certo um acordo para comprarmos diesel bem mais barato da Rússia. A Petrobras (BVMF:PETR4), alguns lá, compravam bem mais caro", disse Bolsonaro, sem fornecer mais detalhes, em conversa com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada.
Mais tarde, em entrevista a jornalistas no Palácio do Planalto, Bolsonaro disse que o combustível pode chegar ao Brasil em um prazo de dois meses, e que espera uma redução no valor cobrado dos consumidores a partir do acordo com os russos.
"A previsão nossa é em dois meses chegar o diesel mais barato. Tem os estoques. Nós importamos quase 30%. Agora, você tem que importar diesel de quem está vendendo mais barato, e não importar à vontade de quem está vendendo até mais caro, porque aumentando o preço aqui aumenta o lucro da Petrobras", afirmou.
Procurados, o gabinete de Bolsonaro e o Ministério de Minas e Energia não responderam imediatamente a pedidos de comentários.
Segundo o presidente, o diesel pode baixar de preço até mesmo antes da chegada das importações russas caso haja uma nova redução no preço do petróleo Brent, cuja cotação chegou a ficar abaixo de 100 dólares o barril, mas que voltou a subir.
"Acredito que se houver uma certa constância um pouco abaixo de 100 dólares tem espaço para diminuir imediatamente o preço dos combustíveis nas refinarias daqui, porque quando aumentava (o preço do petróleo), aumentava, então quando diminui, a gente espera que diminua também, afirmou.
Bolsonaro lembrou que o preço da gasolina já caiu em todo país depois que o Congresso aprovou uma desoneração tributária do ICMS. Segundo levantamento da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o insumo recuou 8,9% no Brasil na semana passada.
"A gasolina baixou de preço, daqui a 60 dias, se Deus quiser, baixa o diesel também, talvez até antes se baixar o Brent lá fora", afirmou.
Um importante funcionário do Ministério da Economia disse à Reuters, sob condição de anonimato, que o acordo de importação de diesel russo "faz sentido e eventualmente pode acontecer".
Já um alto funcionário da Petrobras, estatal que fornece a maior parte do combustível para o mercado brasileiro, disse à Reuters que a ideia não era surpreendente, mas levantou preocupações, sem entrar em detalhes.
Bolsonaro já havia falado dessa possibilidade no final de junho, depois de uma conversa por telefone com o presidente russo, Vladimir Putin.
A Rússia está sob sanções internacionais desde a invasão a Ucrânia, especialmente dos Estados Unidos e da União Europeia --o bloco costumava ser o principal consumidor de gás e petróleo do país, mas cortou boa parte das compras.
Ao contrário dos europeus e norte-americanos, e mesmo com a pressão desses países, o governo brasileiro continua negociando com os russos. Bolsonaro já acertou, também, a garantia de fornecimento de fertilizantes vindo da Rússia.
"A Rússia continua fazendo negócios com o mundo todo. Parece que as sanções econômicas não deram certo", disse Bolsonaro.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu em Brasília e Rodrigo Viga Gaier no Rio de Janeiro; averni)