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ANÁLISE-Seca no RS pode comprometer plantio de trigo apesar de cenário promissor no Brasil

Publicado 09.04.2020, 16:32
Atualizado 09.04.2020, 16:55
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Por Nayara Figueiredo

SÃO PAULO (Reuters) - A forte estiagem ocorrida no Rio Grande do Sul durante a safra de verão deve gerar danos que se estendem até a temporada de inverno e podem comprometer o plantio de trigo no Estado, que é o segundo maior produtor da cultura no Brasil.

Em linhas gerais, 2020 tende a ser um ano promissor para o trigo brasileiro, considerando o dólar alto, que eleva a precificação interna do cereal, e projeções climáticas favoráveis.

Assim, o risco maior fica para a produção gaúcha.

"Imaginávamos uma expansão de área que agora pode ser impactada pela falta de recursos dos agricultores prejudicados pela seca no verão", disse à Reuters o coordenador da Comissão de Trigo da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Hamilton Jardim.

Para ele, na perspectiva mais otimista, o Rio Grande do Sul conseguirá empatar com a área plantada na safra passada, de 730 mil hectares.

"Historicamente, quando o agricultor gaúcho fica endividado ou descapitalizado na primeira safra, ele reduz o investimento na safra seguinte para diminuir o risco de uma nova perda."

A seca ocorrida no Rio Grande do Sul neste ano foi tão severa que pressionou as estimativas nacionais para a produção de soja, grão cultivado no Estado durante o verão.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) informou nesta quinta-feira que a colheita da oleaginosa foi impactada por uma quebra de safra no Rio Grande do Sul, que registrou o pior rendimento das últimas oito temporadas.

Ainda assim, as estimativas para o plantio de trigo dividem opiniões.

Para o consultor em Gerenciamento de Riscos especializado em trigo da FCStone, Roberto Sandoli, a área do cereal pode crescer de 5% a 10% tanto no Rio Grande do Sul, quanto no Paraná, maior Estado produtor do cereal.

No Paraná, o engenheiro agrônomo do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura do Estado, Carlos Hugo Godinho, crava uma alta de 5% na área semeada, para 1,8 milhão de hectares.

A Conab é mais conservadora e também nesta quinta-feira estimou aumento de 2,4% na média de plantio de trigo no Brasil, para 2,08 milhões de hectares.

Segundo o coordenador da Farsul, a tomada de decisão sobre o plantio ocorrerá entre os meses de abril e maio, quando o produtor também vai avaliar os custos com insumos.

EFEITO INVERSO

Especificamente no Paraná, a seca teve um efeito inverso ao do Rio Grande do Sul. Godinho contou que nas áreas onde a estiagem atrasou o plantio da soja, no oeste do Estado, houve dificuldade para cultivar milho safrinha e o agricultor optará pelo trigo.

"Consideramos a estiagem algo positivo para aumentar a área de trigo no inverno. Além disso, os preços estão em patamares recordes e o produtor do Paraná está mais capitalizado", disse.

A produtividade pode crescer 32%, a 3,24 toneladas por hectare, resultando em produção de 3,4 milhões de toneladas no Paraná, alta de 39% em relação à temporada anterior, segundo o Deral.

Considerando somente os fundamentos para o mercado de trigo, o consultor da FCStone explicou que, com a crise do coronavírus, dificilmente o dólar ficará muito abaixo dos 3,30 reais, o que é positivo para o cereal.

"O Brasil é muito dependente da importação e a precificação interna é baseada na paridade de preços do trigo importado. Com dólar alto, o trigo se mantém com cotações elevadas também."

Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) indicam que os preços do trigo recebidos pelos produtores (mercado de balcão) iniciaram o mês de abril entre 7% e 23% maiores que a média de abril de 2019, considerando as diferentes regiões produtoras do Sul e de São Paulo.

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Além disso, Sandoli acredita que as tarifas de exportação impostas pelo governo da Argentina ao setor podem desestimular o plantio da cultura naquele país e reduzir a oferta disponível para compradores brasileiros.

"O trigo do Brasil terá bastante demanda dos moinhos", acrescentou o consultor.

Um ponto de atenção, no entanto, fica sobre a demanda. "A crise do coronavírus pode afetar o consumo interno nos próximos meses, pela perda de emprego ou a economia, que tende a ficar bem complicada", alertou Sandoli.

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