Por Rodrigo Viga Gaier e Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A reguladora ANP afirmou estar atuando para garantir o abastecimento de combustíveis diante do grande número de bloqueios em estradas por manifestantes, mas riscos de falta de produtos tendem a se agravar dependendo do tempo de duração da situação e já geram apreensão entre companhias aéreas.
As manifestações são realizadas por grupos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) insatisfeitos com a derrota nas urnas no domingo.
Bloqueios e interdições atingiam 20 Estados e Distrito Federal na manhã desta terça-feira, apesar de decisões judiciais determinando o desbloqueio e diante do silêncio do presidente, que ainda não havia se manifestado sobre o pleito.
"Em virtude da situação extraordinária, a ANP está mantendo contato permanente com as distribuidoras, a fim de monitorar a movimentação das cargas de modo a prevenir que haja desabastecimento", afirmou a autarquia em nota à Reuters após ser consultada.
Uma fonte da agência disse à Reuters disse que no momento não há desabastecimento estrutural, mas ponderou que "o que não pode é ter interrupção nas vias de transporte de forma continuada, pois senão vai faltar a maioria dos produtos e não só combustível".
Ele comentou ainda sobre o risco de desabastecimentos pontuais devido ao cenário.
"O problema é a questão da profecia alto realizável... se todo mundo for nos postos, os estoques operacionais não suportarão a demanda momentânea, o que pode criar um desabastecimento pontual para quem não conseguir abastecer naquele momento, mas não existe desabastecimento estrutural", disse a fonte.
O ex-diretor da ANP Aurélio Amaral disse à Reuters que o risco de abastecimento depende do tempo da paralisação e que o feriado demandará atenção.
"As companhias (distribuidoras) devem ter cinco dias de estoque operacional. Como (os protestos) começaram ontem e é um mês de muita demanda de diesel para safra, em tese, aguenta cinco dias. Para além disso, fica complicado e aí vai depender de quem se preparou ou não, mas já tem gente passando aperto", afirmou.
AEROPORTOS
A possibilidade de falta de combustíveis em aeroportos já gera preocupação, disse à Reuters o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz.
"Isso pode gerar um impacto muito sério porque pode complicar o abastecimento em diversos aeroportos, afetar a chegada dos tripulantes, impactando passageiros. Em Guarulhos, quase 500 passageiros não chegaram e diversos voos foram cancelados. Isso pode complicar o transporte de cargas, remédios, órgãos", afirmou Sanovicz.
"É absolutamente urgente que as autoridades procedam o desbloqueio de vias e acessos aos aeroportos."
Sanovicz disse ainda que "se as vias não forem desbloqueadas, ao longo do feriado podemos ter problemas". Ele ponderou, no entanto, que "a situação ainda não é crítica, mas de alerta nos aeroportos".