Por Isla Binnie
CIDADE DO VATICANO (Reuters) - Madre Teresa de Calcutá, conhecida como a "santa das sarjetas" durante sua vida, foi declarada neste domingo santa da Igreja Católica Romana pelo Papa Francisco, acelerando a canonização apenas 19 anos após sua morte.
Dezenas de milhares de peregrinos ocuparam a Praça de São Pedro, no Vaticano, para homenagear a freira que trabalhou entre os mais necessitados em favelas da cidade indiana que agora se chama Kolkata e tornou-se um dos rostos mais conhecidos do século 20.
Laureada com o Nobel da Paz, seu legado complementa a visão do Papa Francisco de uma igreja humilde, que se esforça para servir aos pobres, e as festividades em sua homenagem são o destaque do Ano Santo da Misericórdia, que irá até 8 de novembro.
Debaixo de uma pintura que mostra a freira com sua veste branca e bainha azul pendurada na Basílica de São Pedro, Francisco disse que ela era uma "dispensadora da misericórdia divina" e responsabilizava as potências mundiais "pelos crimes da pobreza que criaram".
"Para Madre Teresa, a misericórdia foi o sal que deu sabor a seu trabalho, foi a luz que brilhou nas trevas dos muitos que não tinham mais lágrimas para derramar por sua pobreza e sofrimento."
Cerca de 120.000 pessoas participaram da cerimônia, de acordo com estimativas do Vaticano, celebrando a vida de uma mulher que, de acordo com o papa Francisco, pode ser difícil chamar de "santa", já que as pessoas se sentiam tão próximas dela que a chamavam de "mãe" espontaneamente.
Os críticos dizem que ela fez pouco para aliviar a dor dos doentes terminais e nada fez para combater as causas da pobreza. O escritor ateu Christopher Hitchens fez um documentário sobre ela chamado de "Anjo do Inferno".
Ela também foi acusada de tentar converter os destituídos da Índia predominantemente hindu ao cristianismo, uma acusação a sua missão repetidamente negada.
Porém, o Papa João Paulo II, com quem se encontrava com frequência, não tinha dúvidas sobre sua elegibilidade à santidade, e dois anos depois de sua morte, em vez dos cinco usuais, colocou-a na trilha da canonização.
CELEBRAÇÃO MUNDIAL
Além dos peregrinos de todo o mundo reunidos no Vaticano, ao lado de delegações de mais de uma dúzia de governos, a canonização também foi comemorada em Skopje, capital da Macedônia moderna, onde Madre Teresa nasceu de pais albaneses em 1910 e tornou-se freira aos 16 anos.
Nenhuma grande cerimônia foi marcada em Kolkata, onde a primeira missão das Missionárias de Caridade (MoC) ocorreu em 1952, mas orações, palestras e eventos culturais foram planejados, em uma atmosfera de orgulho silencioso.
A Igreja define como santos aqueles que acredita-se ter levado uma vida santa e que agora estão no paraíso e podem interceder junto a Deus para fazer milagres - sendo que são necessários dois para conferir santidade.
É creditado a ela a cura de câncer de estômago de uma mulher indiana, em 1998, e a infecção cerebral de um brasileiro, em 2008. O brasileiro, Marcilio Andrino, e sua esposa participaram da cerimônia e foram abençoados pelo papa.
Após a cerimônia de canonização, o papa ofereceu pizzas a 1.500 desabrigados em toda a Itália, servidas por membros da ordem da Madre Teresa.
(Reportagem adicional de Sunil Kataria em Kolkata)
((Tradução Redação São Paulo, 55 11 5644 7729)) REUTERS CMO