Por Katya Golubkova e Aleksandar Vasovic
MOSCOU/MARIUPOL (Reuters) - O presidente russo Vladimir Putin pediu neste domingo negociações imediatas sobre a "soberania" do sul e do leste da Ucrânia, apesar de seu porta-voz dizer que isso não significa que Moscou agora aprova as exigências dos rebeldes por uma independência do território que eles controlam.
As declarações do líder do Kremlin, dois dias após uma aparição pública na qual ele comparou o governo de Kiev com os nazistas e advertiu o Ocidente para não "mexer com a gente", veio em um momento em que a Europa e os Estados Unidos preparam possíveis novas sanções para impedir o que eles dizem ser um envolvimento militar direto da Rússia na guerra na Ucrânia.
No primeiro ataque naval do conflito que já dura quatro meses, os separatistas dispararam contra um navio ucraniano no Mar Azov, neste domingo. Um porta-voz militar ucraniano disse que uma operação de resgate estava em andamento, após o ataque de artilharia disparado da costa.
Tropas ucranianas e residentes locais estavam neste domingo reforçando o porto de Mariupol, a próxima grande cidade no caminho de combatentes pró-russos, que forçaram um recuo das forças do governo ao longo do Mar Azov na semana passada em uma ofensiva em uma nova frente.
A Ucrânia e a Rússia trocaram soldados que haviam penetrado no território uma da outra, perto dos campos de batalha, onde Kiev diz que as forças de Moscou vieram em auxílio dos insurgentes pró-russos, desequilibrando as forças militares em favor dos rebeldes.
Negociações devem ser realizadas imediatamente "e não apenas em questões técnicas, mas sobre a organização política da sociedade e sobre a soberania no sudeste da Ucrânia", disse Putin em uma entrevista à televisão estatal Canal 1, com os cabelos despenteados pelo vento à beira de um lago.
Moscou, por sua vez, não poderia ficar alheia enquanto as pessoas estavam sendo mortas "quase à queima-roupa", disse Putin.
O uso da palavra "soberania" por Putin foi interpretado pela mídia ocidental como um apoio à demanda rebelde de independência, algo que Moscou, até agora, não chegou a endossar publicamente.
No entanto, o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, disse que não houve um endosso de Moscou para a independência rebelde. Perguntado se a "Nova Rússia", termo usado pelos rebeldes pró-Moscou para definir seu território, ainda deve ser parte da Ucrânia, Peskov disse: "Claro."
"Só a Ucrânia pode chegar a um acordo com a Nova Rússia, tendo em conta os interesses da Nova Rússia, e esta é a única maneira de se chegar a um acordo político."
Os rebeldes passaram a usar amplamente o termo "Nova Rússia" desde que Putin o utilizou pela primeira vez em uma aparição pública em abril.
Putin disse que era um termo da época dos czares para a terra que hoje forma o sul e o leste da Ucrânia.
Ucranianos consideram o termo profundamente ofensivo e dizem que revela intenções imperiais de Moscou no seu território.
Moscou há muito pede para Kiev manter conversações políticas diretas com os rebeldes. O governo de Kiev diz que está disposto a ter conversas sobre mais direitos para o sul e o leste, mas não vai falar diretamente com combatentes armados que descreve como "terroristas internacionais" e fantoches russos que só podem ser contidos por Moscou.
O vice-líder da chamada República Popular de Donetsk, Andrei Purgin, disse que irá participar de negociações na capital de Belarus, Minsk, na segunda-feira.
Conversas anteriores em um "grupo de contato", envolvendo Moscou, Kiev e os rebeldes cobriram questões técnicas, como o acesso ao local da queda do um avião da Malásia abatido em julho, mas não questões políticas.
(Reportagem adicional de Richard Balmforth e Pavel Polityuk em Kiev, Vladimir Soldatkin em Chelyabinsk, Rússia, e Mark Trevelyan em Moscou)