Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira que não faz ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas em seguida afirmou que parte da corte "quer a volta da corrupção e da impunidade".
"O que parte do nosso querido Supremo Tribunal Federal quer? A volta da corrupção e da impunidade. Não estou atacando o Supremo Tribunal Federal", disse Bolsonaro durante um almoço com empresários em Joinville (SC).
O presidente também lembrou que, na véspera, o presidente do STF, Luiz Fux, mencionou as reportagens com os constantes ataques que faz aos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso e, mais uma vez, criticou a imprensa.
"Quem busca informação na mídia já está desinformado. Não ofendi nenhum ministro do Supremo, apenas falei da ficha do senhor Barroso", afirmou.
Bolsonaro voltou a acusar Barroso, que atualmente preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de ter interesses particulares ao ser contrário ao voto impresso, além de destilar uma série de acusações ao ministro, como de ser favorável ao aborto e contrário à família.
"É esse que fala que as urnas são invioláveis", afirmou. "Esse tipo de gente quer decidir as eleições do ano que vem. Eu quero e desejo eleições. Limpas, democráticas, sem que de meia dúzia de pessoas sem compromisso com a liberdade conte nossos votos em uma sala escura."
A proposta de voto impresso defendida por Bolsonaro foi derrotada na quinta-feira na Comissão Especial da Câmara onde foi analisada por 23 votos contrários a 11 favoráveis. Ainda assim, o presidente insiste em manter a defesa da proposta e o governo pressiona para que seja levada a plenário, apesar das chances ainda menores de ser aprovada.
O presidente tem afirmado, sem apresentar provas, que o sistema eletrônico de votação é passível de fraudes e repetido, equivocadamente, que a votação eletrônica não é auditável, o que não é verdade.
Na quinta-feira, depois de Bolsonaro voltar a atacar Barroso e ameaçar outro ministro do STF, Alexandre de Moraes, que é relator do inquérito das fake news onde Bolsonaro será investigado, o presidente da corte, Luiz Fux, fez um duro discurso e anunciou o cancelamento de uma reunião, ainda sem data, que tentaria abrir o diálogo entre os Três Poderes.
Em seu discurso a empresários, Bolsonaro afirmou que nunca fez nada fora da Constituição, apesar de já ter insinuado mais de uma vez que poderia não haver eleições em 2022 e ter, nesta semana, ameaçado agir fora da Constituição e dito sobre Moraes: "sua hora vai chegar".
"O que menos existe é harmonia [entre os Poderes], nunca proferi uma só palavra, tive um só ato ou tive uma só posição fora das quatro linhas da Constituição", afirmou.