Por José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) - As exportações de carne bovina do Brasil, considerando-se in natura e processados, devem crescer cerca de 10 por cento em 2018, tanto em volume quanto em receita, projetou nesta quinta-feira a associação dos exportadores do país, que aposta na abertura de novos mercados para a proteína nacional mesmo após diversas adversidades neste ano.
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), o maior exportador mundial de carne bovina deve embarcar no próximo ano 1,68 milhão de toneladas do produto, alta de 9,8 por cento na comparação com o esperado para 2017. A receita com as vendas deve avançar 10,5 por cento, para 6,9 bilhões de dólares.
Tal cenário leva em conta a retomada das exportações de carne bovina in natura para os Estados Unidos, a liberação de Cingapura para embarques de carne com osso e miúdos, a ampliação da cota permitida pela União Europeia para vendas do Mercosul e o incremento de plantas habilitadas a vender à China.
"Hoje, o Brasil tem 15 plantas frigoríficas aptas a exportar à China. Em janeiro e fevereiro, autoridades chinesas vão visitar mais 11. O potencial de aumento de exportação para aquele país com essas eventuais habilitações é de 50 por cento", disse o presidente da Abiec, Antônio Jorge Camardelli.
Se confirmadas as previsões da Abiec para 2018, o Brasil poderá ter no próximo ano o maior volume embarcado desde 2007, pelo menos, e o maior faturamento desde 2014, segundo série histórica divulgada nesta quinta-feira.
Entre janeiro e novembro deste ano, o gigante asiático elevou suas compras de carne bovina brasileira em 26,1 por cento, para 190 mil toneladas, figurando como segundo maior importador, atrás apenas de Hong Kong.
De acordo com Camardelli, a retomada do fluxo de negócios com as Filipinas e o início de embarques para a Indonésia também devem ajudar o setor em 2018.
"A gente já esteve lá (na Indonésia)... Em janeiro, o presidente da República (Michel Temer) irá ao país, e nós aproveitamos para criar um ambiente de negócios. O Brasil tem grande chances de ter as exportações de carne para a Indonésia liberadas em janeiro", avaliou o executivo, em entrevista a jornalistas.
Ainda segundo Camardelli, outro país que pode abrir seu mercado à carne brasileira é a Coreia do Sul, cujas autoridades visitarão o parque fabril nacional no próximo ano.
Quanto à Rússia, que suspendeu as importações da proteína em novembro, ele voltou a frisar que a cadeia produtiva brasileira segue as regras quanto à utilização do aditivo alimentar ractopamina e que há uma “sinalização positiva” de reabertura daquele mercado no curto prazo.
A Rússia figurou até novembro deste ano como o terceiro maior destino da carne brasileira.
2017
As projeções da Abiec para 2018 ocorrem mesmo após um 2017 tumultuado para o setor pecuário brasileiro, com a Operação Carne Fraca, delações da JBS (SA:JBSS3) e embargos por Rússia e Estados Unidos.
Mesmo assim, o país deve fechar com exportações de 1,53 milhão de toneladas, alta de 9 por cento ante 2016, com receita de 6,2 bilhões de dólares, avanço de 13 por cento na mesma base de comparação.
"A Operação Carne Fraca teve muito pouco impacto em conceito de qualidade... Houve retomada imediata das exportações... Ficou constatado que outros players internacionais não conseguiram suprir a oferta de carne brasileira, e os compradores voltaram importando em grandes volumes", disse Camardelli.
Em abril, logo após a Carne Fraca, as exportações de carne do Brasil caíram para 93,15 mil toneladas, de 125,25 mil toneladas em março. Em maio, contudo, voltaram a subir para 118,35 mil toneladas e continuaram a avançar até atingir um pico de cerca de 150 mil toneladas em agosto.