O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, voltou a afirmar nesta 5ª feira (18.abr.2024) que o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende importar gás natural da Argentina. As conversas já estão em andamento entre os 2 países e também envolvem Bolívia e Paraguai. Podem resultar em um contrato de importação de 3 milhões de m³/dia de gás de xisto do campo de Vaca Muerta.
A importação é um dos planos do governo para promover um “choque de oferta de gás” no país. Dentro do governo e da Petrobras (BVMF:PETR4), são consideradas duas possibilidades para trazer esse gás para o Brasil, segundo o ministro. A 1ª é por meio do Gasbol (Gasoduto Bolívia-Brasil). E a 2ª, que ainda será melhor estudada, é criar uma rota pelo Paraguai chegando no Mato Grosso do Sul.
“O Paraguai poderia ser uma rota através da região do Chaco. O gasoduto que vem da Argentina passa pela Bolívia. Então a proposta colocada pelo Paraguai é para que a gente estude os potenciais da produção de gás nessa região e a possibilidade de termos um desvio, tendo uma outra rota passando pelo Paraguai. É algo incipiente aqui”, disse em entrevista a jornalistas nesta 5ª feira (18.abr) durante o Gás Week, evento do setor realizado em Brasília.
O Gasbol é usado para trazer gás boliviano para o mercado brasileiro. O duto é interligado a outros gasodutos, incluindo um que leva gás para a Argentina. No entanto, o esgotamento gradual das reservas bolivianas têm reduzido as importações para os 2 países e há expectativa de que elas encerrem até o final da década, o que deixará a infraestrutura ociosa.
A utilização do Gasbol seria um modelo mais barato para importar o gás de Vaca Muerta, por se tratar de uma infraestrutura existente. No entanto, isso dependeria de um acordo entre os 3 países: Brasil, Argentina e Bolívia. O mesmo ocorrerá caso a opção seja passar pelo Paraguai.
Silveira já tinha mencionado a possibilidade de importação via Bolívia em 21 de março deste ano durante evento do setor nos Estados Unidos. Nesta semana, a ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, se reuniu com o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, para tratar do tema. Disse que há “alinhamento de interesses” com o Brasil.
GÁS DE XISTO
Vaca Muerta é considerada a 2ª maior reserva não convencional do mundo. É uma formação geológica rica em gás e óleo de xisto. O xisto é um tipo de rocha metamórfica que tem um aspecto folheado e pode abrigar gás e óleo em frestas. Para extrair gás desse tipo de local há um processo considerado muito danoso ao meio ambiente, porque é necessário quebrar o solo, num sistema conhecido em inglês como “fracking”, derivado de “hydraulic fracturing”.
Questionado sobre a importação desse tipo de gás da Argentina, que tem uma técnica de extração mais danosa ao meio ambiente, Alexandre Silveira afirmou que “o gás é o mesmo” e que não há nenhuma contradição com o debate sobre transição energética, uma vez que o gás poderá ajudar a descarbonizar alguns segmentos.
O ministro defendeu um debate sobre a exploração deste gás no Brasil. Segundo ele, a exploração nacional de gás de xisto tem um potencial de 32 milhões de m³/dia e é preciso ser feito um “amplo debate sobre o gás de xisto no Brasil, para que o país possa pesquisar as reservas e ter conhecimento das suas potencialidades”.
No fracking, é necessário fazer uma perfuração vertical no solo até uma determinada profundidade. Depois, a broca muda para a direção horizontal para ir fraturando o solo, inserindo água e produtos químicos e assim liberando gás e óleo que possa estar “preso” entre as rochas.
O gás de xisto é muito explorado nos Estados Unidos e foi fonte de energia barata nas últimas décadas para turbinar o crescimento econômico norte-americano. Mas há muitas preocupações com o efeito que isso causa ao meio ambiente.
Essa exploração não é regulamentada no Brasil e já foi objeto de decisões judiciais na Bahia e no Paraná que suspenderam as atividades de exploração por meio do fraturamento em áreas leiloadas pela ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).
DUTO COM DINHEIRO BRASILEIRO
A possibilidade de importar gás argentino já vinha sendo cogitada pelo governo Lula. A ideia inicial, porém, era financiar com recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) uma extensão do Gasoduto Presidente Néstor Kirchner, inaugurado no ano passado pelo governo da Argentina.
O gasoduto leva o gás da Vaca Muerta, no oeste do país, até a província de Buenos Aires. Um 2º trecho deve ser construído para levá-lo até a província de Santa Fé, no norte do país, de onde seria possível construir ramais visando a importação para o Brasil e o Chile.
Lula chegou a prometer o financiamento do 2º trecho ao então presidente argentino, Alberto Fernández, em janeiro de 2023. Mesmo antes de o petista confirmar a decisão do Brasil, porém, o governo da Argentina já havia se antecipado em 2022, depois da eleição de Lula, dizendo que receberia dinheiro brasileiro para o gasoduto.
Em 26 de junho de 2023, Lula voltou a falar do projeto e disse que estava “muito satisfeito” com a perspectiva “positiva” de o BNDES financiar a obra. As conversas sobre o financiamento foram deixadas depois da posse do atual presidente da Argentina, Javier Milei. Desde então, o governo brasileiro busca outras alternativas para trazer o gás argentino.