Por Maytaal Angel e Marcelo Teixeira
LONDRES/NOVA YORK (Reuters) - Grandes volumes de café arábica estão prestes a entrar nos armazéns da bolsa ICE, disseram à Reuters traders com conhecimento do assunto, pesando ainda mais sobre os preços globais do grão, que já atingiram mínimas de um ano.
O movimento para reabastecer os estoques da ICE remove um dos últimos suportes do mercado e pode, eventualmente, proporcionar aos consumidores um alívio aos altos preços do café no varejo, que sempre acompanham as oscilações das bolsas globais de commodities.
Os futuros de arábica da ICE têm estado sob pressão ultimamente devido à preocupação de que o crescimento econômico global esteja ameaçado, assim como o principal produtor, o Brasil, poderia produzir uma safra recorde.
No entanto, os estoques da ICE - que ficaram entre 1 milhão e 5 milhões de sacas nas últimas duas décadas - estão atualmente no menor patamar de 23 anos em torno de 380 mil sacas, compensando algumas dessas preocupações e deixando o mercado propenso à volatilidade.
Quando os estoques estão baixos, as compras de contratos futuros podem ter um impacto maior nos preços, pois pode não haver café suficiente disponível para atender à demanda, de modo que aqueles que venderam futuros podem ter que recomprar suas posições.
Os dados da bolsa ICE mostram que, embora os estoques estejam criticamente baixos, mais de 160 mil sacas estão atualmente em armazéns esperando para serem certificadas para entrega em contratos futuros, se passarem pelos controles de qualidade.
Traders dizem que pelo menos outras 100 mil sacas estão a caminho.
"Se os estoques certificados começarem a subir significativamente, não há nada de altista no mercado. Eles teriam que subir mais de 200 mil sacas", disse um trader da Europa em uma casa de comércio global.
Os estoques certificados são um forte impulsionador dos preços do café na ICE porque, ao contrário de outros fatores, são visíveis a todos diariamente e muitos fundos são pré-programados para comprar quando caem as reservas e vender quando elas sobem.
A safra de café no Brasil, responsável por cerca de 40% da produção global de arábica, pode crescer até 10% em 2023 devido ao clima favorável nos últimos meses, dizem analistas, outro fator baixista para o mercado.