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CHARGE: A Europa descobre o preço total do gás russo

Publicado 29.03.2022, 13:28
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Por Geoffrey Smith 

Investing.com -- Avanços no sentido de um acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia podem estar se acelerando, mas para os mercados mundiais de energia, assim como para as cidades devastadas de Kharkiv e Mariupol, o ponto irreversível já foi enfaticamente ultrapassado.

Na semana passada, a União Europeia finalmente cedeu a anos de diversas formas de pressão dos Estados Unidos, anunciando que irá substituir pelo menos parte das suas importações de gás natural provenientes da Rússia, que chegam principalmente através de gasodutos com gás natural liquefeito.

Foi preciso uma guerra desnuda de agressão - a maior do continente desde 1939 - para fazer com que a Europa perceba que a sua dependência da energia russa a deixou, efetivamente, à mercê de um vizinho que ainda não consegue se livrar do secular hábito do imperialismo, sob o domínio de um homem que nunca renunciou nem aos métodos nem aos objetivos da KGB da União Soviética. Finalmente, a ficha parece ter caído.

Nos termos de um acordo esboçado pela UE e pelos EUA na semana passada, os EUA ajudarão no fornecimento de mais de 15 bilhões de metros cúbicos de gás para os mercados europeus este ano, com aumento para 50 bmc por ano até o final da década. No curto prazo, a Europa terá de raspar o tacho de tudo o que estiver disponível no mercado aberto, mas a longo prazo, parece que as operações dos EUA ou de suas empresas ao redor do mundo irão, em última análise, fornecer a maior parte desse gás. Mesmo que isso aconteça como previsto, a Rússia continuará sendo de longe a maior fornecedora de energia da região (ela forneceu 24% de toda a energia bruta disponível na UE em 2020, de acordo com o Eurostat), mas terá corrigido ao menos parcialmente uma relação flagrantemente desequilibrada.

Desse modo, a guerra da Ucrânia marca um momento decisivo nos mercados mundiais de energia: o momento em que um dos maiores blocos consumidores de energia do mundo escolheu deliberadamente pagar pela paz de espírito que vem com a segurança do abastecimento.

A frase "a Rússia não é um fornecedor de energia confiável" pode não parecer tão dramática no papel ou ao ouvido como a descrição feita por Joe Biden de Vladimir Putin como um "criminoso de guerra" e um "assassino", mas atingem diretamente o coração da autoimagem econômica da Rússia e, ao proferi-la na segunda-feira, o Vice-Chanceler alemão, Robert Habeck, derrubou 40 anos de doutrina econômica europeia (liderada pela Alemanha) que procurava enterrar inimizades passadas e garantir a paz a longo prazo com a Rússia através da construção de laços econômicos.

"Mesmo durante o auge da Guerra Fria, os soviéticos nunca usaram o petróleo (sic) como arma contra nós", afirmou na segunda-feira Wolfgang Ischinger, presidente da Conferência de Segurança de Munique. "Achamos que ‘isto vai ser assim para sempre’ e que eles nunca seriam abusivos nesta relação".

A continuidade de tal pensamento - de ambos os lados - é surpreendente. Na década de 1980, Ronald Reagan tentou desesperadamente persuadir o então Chanceler Helmut Kohl a não assinar os contratos que levariam o primeiro lote gás russo à Alemanha Ocidental. Kohl insistiu, motivado pela convicção comum à sua geração de que a Alemanha e a Rússia nunca mais deveriam entrar em guerra novamente (no entanto, ele compensou Reagan, persuadindo um público cético a aceitar o posicionamento de mísseis Pershing com capacidade nuclear).

Reagan, entretanto, apresentou exatamente os mesmos argumentos sobre dependência e vulnerabilidade repetidos nos últimos anos pelos governos de George W. Bush, Barack Obama, Donald Trump e Joe Biden – governos que tiveram poucas outras coisas em comum.

Na verdade, uma medida da imprudência e do erro de cálculo de Putin é o quanto ele quebrou com décadas de raciocínio estratégico russo - incluindo o seu próprio.   

Por extensão, é óbvio que, uma vez que o furor em relação à guerra atual suma, as mesmas trocas voltarão às mentes de alguma forma reconhecível. A promessa de uma energia russa mais barata sempre estará lá, sussurrando aos ouvidos da indústria e dos governos da Europa que dificilmente podem se dar ao luxo de repassar ainda mais custos para os seus clientes e eleitores. O gás canalizado da Rússia continuará sendo mais barato que a versão liquefeita dos EUA, de Trinidad ou do Qatar, mesmo que a Alemanha e a Itália possam construir milagrosamente novas e dispendiosas instalações de regaseificação, ao mesmo tempo em que tentam ir além dos combustíveis fósseis unicamente para cumprir as suas metas de mudança climática.

Em algum momento, a Europa terá de decidir se irá adotar a via mais barata e mais fácil, revivendo o comércio de gás com a Rússia, ou se aumentará a aposta e realizará mais gastos na sua transição energética a fim de reduzir a sua demanda total por combustíveis fósseis. Mas o cálculo: "até onde confiar na Rússia?" é uma constante na consciência da Europa ao longo de séculos. Da próxima vez que se levantar essa questão, o preço total da energia russa barata será, pelo menos, claro demais para se ignorar.

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