Por José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) - As chuvas neste início de outubro no centro-sul do Brasil voltaram a provocar atrasos na colheita de cana, mas melhoraram os prospectos para a safra do próximo ano, que está em desenvolvimento nos campos, segundo especialistas.
Em São Paulo, principal produtor do país, as precipitações acumularam uma média de 12,2 mm no sábado e devem acumular outros 20 mm nesta segunda-feira, de acordo com o Agriculture Weather Dashboard, do terminal Eikon da Thomson Reuters.
Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás também registraram chuvas de 5 a 20 mm após um setembro de forte estiagem. A previsão aponta que a partir de quarta-feira as precipitações voltem a ficar irregulares na região.
"Apesar de as chuvas terem paralisado as atividades de colheita, elas estão beneficiando o desenvolvimento das lavouras que serão colhidas nesses próximos meses, bem como aquelas que estão em fase de rebrota ou mesmo que foram plantadas", resumiu o agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antonio dos Santos, em relatório.
Na mesma linha, o analista João Paulo Botelho, da INTL FCStone, afirmou que "a cana já está se desenvolvendo para o ano que vem" e que as chuvas de agora são, portanto, importantes.
De acordo com ele, a situação era mais delicada, principalmente, no Triângulo Mineiro e em Goiás.
PREOCUPAÇÃO PERSISTE
Com base em projeções da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), faltam em torno de 160 milhões de toneladas de cana para serem processadas no restante da atual temporada --até a 1ª quinzena de setembro, a moagem alcançava 427 milhões de toneladas, sendo que a entidade espera um esmagamento de 585 milhões em todo o ciclo 2017/18.
No entanto, parte dos canaviais que serão colhidos durante a safra 2018/19, que se inicia em abril do próximo ano, já está em desenvolvimento, e por isso existe a necessidade de um regime regular de chuvas.
Durante evento em São Paulo na semana passada, consultorias apresentaram perspectivas diferentes para o ciclo 2018/19, cuja moagem de cana pode subir a 625 milhões de toneladas ou cair para 560 milhões de toneladas.
"A questão agora é olhar para frente, o que vai acontecer. A ideia no mercado é de que essas chuvas não representam nenhuma mudança de padrão, nenhum início de período mais chuvoso", ponderou o direito de commodities do Société Générale, em Nova York, Michael McDougall.
"O mercado está dizendo que as chuvas foram razoáveis no leste do Paraná, no sul de Minas Gerais, no oeste de Goiás e no extremo sudeste de Mato Grosso, mas isso já estava precificado", acrescentou.
Para o diretor da consultoria Job Economia, Julio Maria Borges, embora a seca recente tenha sido compensada pelo excesso de umidade no início da temporada, há sinais de formação de La Niña, fenômeno que reduz o volume de chuvas no Sul e em partes do Centro-sul do Brasil.
"Se isso acontecer, teremos um clima mais seco neste final de safra, pouca chuva acumulada até março do que vem e talvez uma quebra de safra (2018/19). Daí muda tudo, podemos nem ter superávit (de oferta global) de açúcar", comentou.
Às 13:08, o açúcar bruto na ICE subia mais de 2 por cento, a 14,41 centavos de dólar por libra-peso.