Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A colheita de café do Brasil 2022/23 havia atingido 35% do total projetado até o dia 21 de junho, com atraso ante a média histórica para o período, o que deve impactar o ritmo de exportação do país nos primeiros meses de embarques da nova temporada, afirmou a consultoria Safras & Mercado nesta quinta-feira.
O atraso na colheita se deve à maturação irregular, falta de mão de obra para os trabalhos e uma produção maior em relação ao ano passado, segundo a consultoria.
Na mesma época de 2021, o maior produtor e exportador global de café havia colhido cerca de 40% da safra, enquanto pela média histórica de cinco anos o índice é de 44%.
A colheita avançou 7 pontos percentuais na comparação com a semana anterior, segundo dados da Safras, mas não o suficiente para reverter a situação, o que tem sustentado preços para embarques imediatos, além de potencialmente limitar o escoamento.
"Esse atraso já tem uma implicação de curto prazo, preços valorizados, principalmente para café do chamado grupo 1 de exportação, bebida boa, bebida fina, cerejas estão valorizados nos embarques mais imediatos, isso se deve ao atraso na colheita", disse o consultor Gil Barabach, à Reuters.
A saca de 60 kg do café bebida dura para melhor, posto em São Paulo, registra alta de 9% no acumulado do mês, cotada a 1.388,80 reais, segundo indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
"Lógico que vai ter implicação nos primeiros meses de embarque, mas se andar melhor nas próximas semanas acho que conseguimos suavizar este efeito do atraso", acrescentou.
Os embarques de café do Brasil em junho somaram 1,156 milhão de sacas até o dia 22, versus 859,5 mil sacas até a mesma data do mês anterior, segundo dados da autoridade aduaneira brasileira compilados pelo Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé).
O especialista da Safras citou também uma menor oferta de café da Colômbia, o que sustenta o mercado no curto prazo diante do ritmo da colheita no Brasil. Estoques de café certificados na bolsa de Nova York nos patamares mais baixos em 22 anos são outros fatores de alta, acrescentou.
"Muito disso se dá na questão da Colômbia, menor produção, essa procura por alternativas externas, e atraso no embarque do Brasil cria este ambiente."
O consultor disse que uma postura menos retraída dos produtores poderia melhorar a situação da oferta.
"O produtor está segurando o café... apostando na alta no curto prazo, isso deve colaborar com este fluxo mais travado no início de safra", destacou.
ARÁBICA E CONILON
"A colheita de café está atrasada por conta de uma maturação irregular e carência de mão de obra, especialmente para o café conilon, além de um maior volume em relação ao ano passado", disse a Safras em nota.
Em termos de volumes colhidos, a Safras estima mais de 21 milhões de sacas até o dia 21 de junho, tomando por base a estimativa da consultoria de produção total de 61,1 milhões de sacas de 60 quilos.
A colheita de grãos arábica, que respondem pela maior parte da safra brasileira, alcançou 26% do projetado, ligeiramente abaixo das 27% de igual época do ano passado e bem abaixo dos 35% de média dos últimos cinco anos para o período.
Na véspera, a maior cooperativa de café do Brasil, a Cooxupé, que trabalha somente com arábica no Sul/Cerrado de Minas Gerais e parte de São Paulo, divulgou que a colheita tem o ritmo mais lento desde 2018 para a época.
Os trabalhos de colheita com grãos conilon/robusta do Brasil chegam a 50% do potencial da safra, ainda bem abaixo dos 63% em igual época do ano passado e dos 66% de média no período entre 2017 a 2021, segundo a consultoria.
(Por Roberto Samora)