Por Naveen Thukral
CINGAPURA (Reuters) - Um salto nos preços da soja brasileira está afastando compradores chineses, de acordo com dois operadores, mesmo que a alta seja causada pela expectativa de demanda da segunda maior economia mundial, conforme sua guerra comercial com os Estados Unidos se intensifica.
Os valores da soja no Brasil subiram para 400 dólares por tonelada, incluindo custo e frete para a China, contra 380 dólares na semana passada, antes da mais recente rodada de avanço no conflito comercial sino-americano, disseram os operadores.
A alta nos preços foi estimulada por expectativas de que, por conta das tensões comerciais, os compradores chineses impulsionem as compras da oleaginosa de lugares como o Brasil, dado que Pequim afirmou que está deixando de adquirir produtos agrícolas norte-americanos, em resposta às novas tarifas sobre bens chineses anunciadas na última semana.
"Desde que o presidente dos EUA anunciou uma tarifa de 10% aos produtos chineses, os preços brasileiros subiram", disse um operador em uma conferência do setor em Cingapura.
"A maioria dos importadores chineses está permanecendo afastada do mercado."
Ambos os operadores, que possuem conhecimento direto das aquisições chinesas, pediram para não ser identificados, uma vez que não estão autorizados a falar com a imprensa.
Os preços da soja em Sorriso (MT), no coração da sojicultura brasileira, atingiram o maior nível desde 18 de junho nesta semana, de acordo com pesquisa de preços do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Enquanto isso, a retração na demanda por farelo de soja para ração, à medida que a peste suína africana se espalha por grande parte da criação de porcos da China, deve diminuir o apetite do país pela oleaginosa no longo prazo. Os grãos importados geralmente são utilizados para a fabricação de farelo.
"A demanda por farelo de soja está da mão para a boca, já que ninguém tem certeza do que acontecerá em seguida", disse o segundo operador, que trabalha em uma empresa que possui unidades de processamento de soja na China.
"Ninguém tem qualquer ideia a respeito da guerra comercial, sobre como e quando ela irá terminar."
A China, maior consumidora mundial de carne de porco, já reportou mais de 140 surtos de peste suína africana desde a detecção do primeiro caso em agosto do ano passado.
As importações de soja pela China devem cair para 85 milhões de toneladas em 2018/19, ante 94,1 milhões de toneladas embarcadas em 2017/18, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
(Reportagem de Naveen Thukral)